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Angola

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Guerras e escassez de alimentos, devastações mortíferas devido a doenças, sofrimento e morte causados por homens que agem como animais selvagens, sob o símbolo dos cavaleiros do Apocalipse, tudo isto foi predito pela Bíblia para os nossos dias. (Rev. 6:3-8) A Terra inteira tem sido afetada. Angola não é uma exceção a isso.

De uma extremidade deste país a outra, tem-se sentido o efeito da cavalgada desenfreada desses cavaleiros apocalípticos. Qual tem sido a situação das Testemunhas de Jeová em meio a essas condições?

Muitas Testemunhas têm sido alvo de perseguição cruel. Algumas delas foram mortas quais inocentes espectadores na brutal e interminável guerra civil. Muitas delas têm enfrentado os horríveis efeitos de fomes causadas por agitação política e instabilidade econômica. Mas nada destruiu sua fé em Jeová Deus nem sua confiança em sua Palavra. Seu desejo sincero é mostrarem-se leais a Deus e dar um pleno testemunho a outros a respeito dos propósitos dele. E o amor que demonstram uns para com os outros é uma evidência convincente de que são verdadeiros discípulos de Jesus Cristo. — João 13:35.

Considere dois exemplos que evidenciam a qualidade de sua fé. Mais de 40 anos atrás, um inspetor de polícia disse enfaticamente a uma Testemunha de Jeová: “No que diz respeito a Angola . . . , a organização da Watchtower está liquidada, liquidada, liquidada!” Logo em seguida, falou de maneira ameaçadora a outra Testemunha nascida em Angola. “Sabe o que lhe vai acontecer?”, perguntou o inspetor. A resposta calma dele foi: “Sei o que pode fazer-me. Mas o máximo que pode fazer é matar-me. Pode fazer mais do que isso? Mas não renunciarei à minha fé.” Apesar de anos de maus-tratos em prisões e em campos penais, essa Testemunha, João Mancoca, tem-se mantido firme em sua resolução.

Mais recentemente, um ancião da província de Huambo escreveu: “Estamos numa situação perigosa. A extrema falta de alimentos e de remédios está assolando as congregações. Não encontramos palavras para descrever a situação existente e o estado físico de nossos irmãos.” Mas também disse: “Embora nossa condição física seja grave, estamos espiritualmente saudáveis. O que está acontecendo é exatamente o que foi predito em Mateus, capítulo 24, e em 2 Timóteo 3:1-5.”

Como se explica essa atitude positiva em face de tanto sofrimento? É conseqüência da fé e da coragem que resultam quando as pessoas confiam não em si mesmas nem em outros humanos, mas no Reino de Deus nas mãos de Jesus Cristo. Eles sabem que, não importa quem no momento esteja no poder ou por mais difícil que seja a situação, o propósito de Deus prevalecerá. Estão plenamente persuadidos de que o Filho de Deus, que governa dos céus, será vitorioso e sob o seu governo a Terra se tornará um paraíso. (Dan. 7:13, 14; Rev. 6:1, 2; 19:11-16) As Testemunhas de Jeová em Angola sabem por experiência própria que mesmo atualmente Deus dá a humanos frágeis poder além do normal para que possam perseverar. — 2 Cor. 4:7-9.

Mas, antes de sabermos mais sobre a história dos servos de Jeová em Angola, demos uma breve olhada no país onde vivem.

Um diamante bruto

Angola situa-se no sudoeste da África, tendo por limites a República Democrática do Congo ao norte, a Namíbia ao sul, Zâmbia ao leste e o oceano Atlântico ao oeste. Tem uma área terrestre de 1.246.700 quilômetros quadrados, aproximadamente do tamanho da França, da Itália e da Alemanha em conjunto. É quase 14 vezes maior do que Portugal, que começou a colonizar Angola no século 16. Em resultado da colonização portuguesa, cerca de 50% da população professa a crença católica.

O português ainda é o idioma oficial, mas Angola é uma sociedade poliglota. Das mais de 40 línguas faladas aqui, as línguas umbundo, kimbundu e kikongo são as mais amplamente faladas.

No decorrer dos anos, os ricos recursos de Angola têm sido escoados para outros países. Durante a colonização, milhões de escravos foram enviados ao Brasil, que na época era mais uma colônia portuguesa. O solo fértil de Angola produzia outrora grandes safras de banana, manga, abacaxi, cana-de-açúcar e café. Depois de retirado o jugo colonial, o desenvolvimento econômico foi tolhido por lutas civis paralisadoras. Mesmo assim, Angola ainda tem ricos recursos de petróleo em mar, bem como significativas e abundantes reservas de diamantes e de minério de ferro. Entretanto, seus recursos mais valiosos são as pessoas humildes e resolutas, milhares das quais têm demonstrado profundo amor pela Palavra de Deus e sua promessa de um futuro feliz debaixo do Reino de Deus.

“Envia teu pão sobre a superfície das águas”

A primeira atividade relatada das Testemunhas de Jeová em Angola foi a de Gray Smith e de sua esposa, Olga, um casal de pioneiros originários da Cidade do Cabo, na África do Sul. Em julho de 1938, viajaram de Johanesburgo, dirigindo um carro projetado para transmitir por alto-falante discursos bíblicos gravados. O carro estava carregado de publicações da Torre de Vigia. O casal Smith, nessa viagem de três meses, fez assinaturas da revista A Sentinela e colocou Bíblias, livros e folhetos num total de 8.158. Eles distribuíram amplamente publicações numa vasta área, alcançando pessoas em Benguela, Luanda, Sá da Bandeira (atualmente Lubango) e em outras cidades do oeste de Angola. Mas, no ano seguinte, estourou a Segunda Guerra Mundial, de modo que foi difícil manter contato com as pessoas que mostraram interesse.

Por algum tempo havia poucos resultados tangíveis de sua campanha de pregação. Mas o princípio em Eclesiastes 11:1 revelou-se verdadeiro: “Envia teu pão sobre a superfície das águas, pois no decorrer de muitos dias o acharás de novo.”

Algumas sementes da verdade levaram anos para germinar, conforme ilustra um relatório recebido da província de Huíla. Muitos anos depois dessa expedição de pregação pelo casal Smith, um certo Sr. Andrade lembrava que, quando tinha 41 anos e morava em Sá da Bandeira, havia recebido de alguém que passara de carro, procedente da África do Sul, certas publicações da Torre de Vigia. Naquele tempo, ele adquiriu o livro Riquezas e fez uma assinatura da revista A Sentinela. Escreveu para a sociedade congênere no Brasil e ela tomou providências para que ele se beneficiasse de um estudo bíblico domiciliar por correspondência. Mais tarde, porém, o estudo bíblico foi interrompido quando o Sr. Andrade percebeu que sua correspondência estava sendo censurada. Ele perdeu assim contato com as Testemunhas por muitos anos.

Em 1967, Zuleika Fareleiro, que se batizara fazia pouco tempo, mudou-se para Sá da Bandeira. Ela tinha relativamente pouco conhecimento da verdade e naquela época a atividade das Testemunhas de Jeová estava proscrita no país. Mas tinha muito desejo de compartilhar com outros o que sabia. Começou um estudo bíblico com uma senhora que lhe disse que conhecia um sapateiro que parecia ser da mesma religião. A irmã Fareleiro levou alguns sapatos para serem consertados e, quando mostrou ao sapateiro o livro A Verdade Que Conduz à Vida Eterna, os olhos dele brilharam. Ela conseguiu iniciar um estudo bíblico com ele. Esse homem era o Sr. Andrade, que agora andava de cadeira de rodas. Ele ficou traumatizado por ter presenciado o assassinato de sua esposa. Portanto, a esperança do Reino o atraiu, e ele se apegou a essa esperança firmemente. Batizou-se como Testemunha de Jeová em 1971 e serviu fielmente a Jeová até sua morte em 1981 aos 80 anos de idade. Apesar de sua deficiência física e idade avançada, sua presença regular e ativa a todas as reuniões congregacionais encorajava grandemente os outros.

Esforço para instruir e edificar angolanos

Uns 60 anos atrás, um homem chamado Simão Toco estava associado com uma missão batista no norte de Angola. Ao mudar-se de M’banza Congo, em Angola, para Léopoldville, no Congo Belga (atualmente Kinshasa, na República Democrática do Congo), Toco fez uma parada na casa de um amigo. Viu ali um exemplar da revista Luz e Verdade (atualmente Despertai!). Continha uma tradução em português do folheto O Reino, a Esperança do Mundo. Toco interessou-se pelo folheto, mas seu amigo não estava interessado, de modo que o deu a Toco. Assim, ele também chegou a ter uma publicação das Testemunhas de Jeová.

Em 1943, depois de chegar a Léopoldville, Toco formou um coro que com o tempo aumentou em número, incluindo centenas de cantores. Por causa de seu grande desejo de instruir e edificar seus conterrâneos angolanos expatriados, ele traduziu para a língua kikongo o folheto O Reino, a Esperança do Mundo. Aos poucos, ele incluiu nos hinos que compunha a esperança do Reino e outras verdades bíblicas que aprendera. Usava também essas informações em palestras bíblicas com alguns que faziam parte de seu coro. João Mancoca, outro angolano que trabalhava em Léopoldville, começou a se associar com o grupo de estudo bíblico de Toco em 1946. As reuniões eram realizadas nos sábados e domingos à noite, e Mancoca estava sempre entre os 50 ou mais na assistência.

Em 1949, os membros do grupo sentiram-se motivados a falar a outros sobre o que estavam aprendendo, de modo que muitos deles saíram a pregar em Léopoldville. Isso enfureceu o clero batista e as autoridades belgas. Em pouco tempo, muitos do grupo de Toco foram presos. João Mancoca estava entre eles. Foram mantidos na prisão por vários meses. Daí, os que se recusaram a abandonar o movimento que se desenvolvia em associação com Toco e a parar de ler publicações que se originavam da Sociedade Torre de Vigia foram deportados para sua terra natal, Angola. Com o tempo, havia cerca de 1.000 deles.

As autoridades portuguesas em Angola ficaram indecisas quanto a que fazer com eles. Por fim, os que foram enviados de volta a Angola foram dispersados em várias partes do país.

Foi mais ou menos nessa época, em 1950, que a verdade bíblica foi introduzida na segunda maior cidade de Angola, Huambo, conhecida então como Nova Lisboa. O progresso foi lento, mas, com o tempo, João da Silva Wima, Leonardo Sonjamba, Agostinho Chimbili, Maria Etosi e Francisco Portugal Eliseu estavam entre os que se tornaram ali servos leais de Jeová. Eles ajudaram também suas respectivas famílias a aprender a respeito de Jeová e suas normas justas.

Quanto a Toco e alguns outros, foram mandados para trabalhar numa plantação de café no norte. Mas, infelizmente, já estavam ocorrendo mudanças na maneira de Toco ver as coisas. Enquanto Toco e seu grupo ainda estavam em Léopoldville, seguidores de Simão Kimbangu que praticavam o espiritismo vinham assistindo às suas reuniões. Certa vez, durante uma reunião, eles passaram por uma experiência que alguns consideravam ser derramamento de espírito. Mas não ‘provaram para ver se esse espírito se originava de Deus’. (1 João 4:1) João Mancoca não se agradou de ver o estudo bíblico ser relegado a segundo plano a favor de confiar no ‘espírito’.

Depois de serem levados de volta a Angola, João Mancoca foi para Luanda. Mancoca, junto com Sala Filemon e Carlos Agostinho Cadi, instou com os outros do seu grupo que aderissem à Bíblia e rejeitassem práticas que não estavam em harmonia com ela. Mais tarde, quando Toco estava sendo enviado para um lugar no sul, passou por Luanda. Era óbvio que tinha sido influenciado mais fortemente ainda pelas crenças dos seguidores de Kimbangu.

Em 1952, em resultado de traição por parte de um dos que se associavam com o grupo, João Mancoca, Carlos Agostinho Cadi e Sala Filemon foram presos e banidos para a Baía dos Tigres, uma colônia penal ligada a atividades de pescaria. O traidor era um homem ameaçador que tinha duas mulheres. As tentativas dele de se estabelecer como líder do grupo em Luanda quase haviam feito alguns renunciar. Por ser desonesto, logo entrou em dificuldades com as autoridades e ele também foi banido para a colônia penal.

Um visitante com uma missão tripla

Em 1954, várias cartas dos do grupo da Baía dos Tigres foram recebidas na congênere da África do Sul. Eles tinham muito desejo de adquirir publicações bíblicas. Em resposta, foi enviado da França a Angola, em 1955, John Cooke, um missionário da Torre de Vigia. Ele tinha uma missão tripla: confirmar os relatos de que havia 1.000 Testemunhas em Angola, tentar ajudá-las se possível e verificar o que se poderia fazer para estabelecer legalmente a atividade das Testemunhas de Jeová em Angola. Depois de reuniões com diversos grupos, sua investigação por cinco meses revelou que o número de Testemunhas era muito menos de 1.000. Conforme mostrava o relatório de 1955 do serviço de campo de Angola, havia apenas 30 publicadores das boas novas no país inteiro.

Foi depois de várias semanas que as autoridades portuguesas permitiram que John Cooke visitasse João Mancoca e o pequeno grupo que se achava na Baía dos Tigres, no sul de Angola. O irmão Cooke teve permissão de ficar ali por cinco dias, e as explicações que deu sobre a Bíblia convenceram ainda mais a Mancoca e aos outros que ele representava a organização que realmente serve a Jeová Deus. No último dia de sua visita, o irmão Cooke, perante um grupo de umas 80 pessoas, incluindo o administrador-chefe da colônia penal, deu um discurso público sobre o tema “Estas boas novas do Reino”.

Nos meses em que esteve em Angola, o irmão Cooke pôde entrar em contato com Toco, bem como com pessoas em vários lugares que o consideravam seu líder. Muitas delas revelaram ser simplesmente seguidores sectários de Toco, e não estavam interessadas na atividade das Testemunhas de Jeová. Uma exceção a isso era António Bizi, um rapaz em Luanda que tinha muita vontade de aprender mais sobre os propósitos de Jeová. Quanto a Toco, ele estava confinado a um povoado perto de Sá da Bandeira, sem permissão de enviar ou de receber cartas.

A visita do irmão Cooke foi muito encorajadora para o pequeno grupo de fiéis na Baía dos Tigres. O irmão Mancoca relembra que a visita confirmou que eles “não estavam no caminho errado”. Revelou também que, embora o número de Testemunhas fosse menor do que o relatado, havia potencial para crescimento. O irmão Cooke disse em seu relatório que alguns com os quais se reuniu estavam “ansiosos de aprender” e “parece que há aqui um campo excelente”.

Mais encorajamento

Um ano após a visita do irmão Cooke, a Sociedade enviou a Luanda outro irmão capacitado, Mervyn Passlow, formado na Escola de Gileade, junto com a esposa, Aurora. Eles tinham uma lista feita por John Cooke de uns 65 assinantes e outras pessoas interessadas. No início, o casal Passlow teve dificuldade de contatar os assinantes, visto que as revistas eram enviadas às caixas postais do correio, não aos endereços de residência. Mas, naquele tempo, uma mulher de nome Berta Teixeira voltou de Portugal a Luanda. Lá em Portugal, ela havia encontrado Testemunhas de Jeová e mostrado bastante interesse pela verdade bíblica. O escritório em Lisboa havia notificado ao casal Passlow que Berta chegaria, e logo se iniciou um estudo bíblico com ela. Um parente de Berta trabalhava nos correios e ajudou a achar o endereço de residência dos assinantes, muitos dos quais se tornaram zelosos estudantes da Bíblia. Esses logo passaram a falar com amigos e vizinhos o que aprendiam. Em seis meses, o casal Passlow já estava estudando com mais de 50 pessoas.

O casal Passlow, poucos meses depois de chegar, começou a dirigir estudos bíblicos regulares em seu quarto com o uso da revista A Sentinela. No fim do primeiro mês, o quarto se tornou pequeno demais. Berta Teixeira tinha uma escola de línguas, e ofereceu o uso de uma de suas salas de aula para as reuniões. Depois de oito meses, foi realizado o primeiro serviço de batismo pelas Testemunhas de Jeová em Angola, na baía de Luanda.

Por causa da situação existente na época em Angola, o contato do casal Passlow com os irmãos africanos era limitado. Mas alguns deles visitavam o casal Passlow. Um que comparecia regularmente aos estudos era António Bizi, que John Cooke achara ser um estudante sincero. E João Mancoca, ainda na prisão, enviava ao casal Passlow cartas de encorajamento.

Entretanto, pouco depois do primeiro serviço de batismo, o governo recusou renovar os vistos de permanência do casal Passlow, de modo que o casal teve de deixar o país. Eles haviam feito um trabalho excelente de plantar “sementes” e de regar as plantadas por outros. (1 Cor. 3:6) Criaram também um forte vínculo de afeto com os irmãos angolanos. Por causa da hostilidade da polícia, o casal Passlow acautelou os irmãos locais, especialmente os africanos, para que não tentassem ir despedir-se durante o embarque. Mas o vínculo de amor deles era tão forte que muitos estavam presentes para expressar seu afeto ao passo que o casal se dirigia para a prancha de embarque do navio.

Harry Arnott, um superintendente zonal, havia visitado o casal Passlow em Luanda em 1958. Em fevereiro de 1959, quando tentou visitar Angola novamente como superintendente zonal, estava no aeroporto para recepcioná-lo um pequeno grupo, incluindo o irmão Mancoca e a irmã Teixeira. Mas a polícia interferiu quase que imediatamente. O irmão Arnott foi separado do grupo e toda a sua bagagem foi revistada.

Por fim, o irmão Arnott foi parar na mesma sala em que o irmão Mancoca ficara detido. Ao verem um ao outro, eles riram. O inspetor de polícia não entendeu o que havia de engraçado e disse furiosamente a Mancoca: “Sabe o que lhe vai acontecer?” O irmão Mancoca, que nessa época já havia passado seis anos na prisão e sofrido repetidos espancamentos, respondeu calmamente: “Não me adianta chorar. Sei o que pode fazer-me. Mas o máximo que pode fazer é matar-me. Pode fazer mais do que isso?” e concluiu com a firme declaração: “Mas não renunciarei à minha fé.” Olhou então para o irmão Arnott e sorriu de maneira encorajadora. O irmão Arnott relembra: “Ele parecia bem alheio a seus apuros e estava apenas preocupado em se certificar de que eu não ficasse desanimado diante da situação. Foi muito edificante ver esse irmão africano, depois de anos de encarceramento, tomar essa posição firme e corajosa.”

Quanto ao irmão Arnott, foi mandado embora do país no mesmo avião que o trouxera — mas não antes daquele breve, porém edificante contato com o irmão Mancoca. Depois de sete horas de interrogatório, o irmão Mancoca também foi posto em liberdade.

Uma semana depois desse incidente, o irmão Mancoca foi por fim batizado junto com seus amigos Carlos Cadi e Sala Filemon. Mais ou menos nessa época, alugou-se uma sala no Sambizanga, um subúrbio de Luanda, e era ali que a primeira congregação oficial das Testemunhas de Jeová em Angola realizava suas reuniões. Naquele tempo, podiam iniciar e concluir a reunião com cântico, e esse entoar de cânticos atraía a atenção da vizinhança. Muitos ficaram impressionados com o fato de que os presentes ao Estudo de A Sentinela podiam realmente participar da reunião e se lhes permitia também fazer perguntas depois das reuniões. Esse intercâmbio de comunicação, que não existia nas igrejas da cristandade, deu um grande impulso à obra ali.

“Cautelosos como as serpentes”

Em 1960, a supervisão da pregação das boas novas em Angola foi transferida da África do Sul para a congênere de Portugal. Esse fortalecimento dos laços entre as Testemunhas de Jeová desses dois países se contrastava com a deteriorante relação política entre Angola e Portugal que por muito tempo governou Angola como colônia.

A independência do vizinho Congo Belga e a subseqüente guerra civil ali afetaram grandemente o clima político em Angola. O governo colonial aumentou sua vigilância, mas não conseguiu evitar uma guerrilha em prol da independência de Angola. Em janeiro de 1961, irrompeu violência no centro de Angola. Isto levou a uma tentativa de golpe de estado em Luanda no mês de fevereiro. Depois, em março, após disputas sobre salários na região norte do Congo, extremamente empobrecida, os angolanos mataram centenas de colonos portugueses, o que provocou uma grande retaliação.

Nos anos 60, surgiram três movimentos anticoloniais: o Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), marxista, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).

Essa guerra civil criou problemas imediatos para o pequeno grupo de Testemunhas de Jeová. Foram tachadas pela imprensa de “seita anticristã e socialmente perniciosa”. Jornalistas citaram erroneamente artigos da Despertai! e fizeram afirmações falsas de que o objetivo das Testemunhas era “justificar, senão também incitar, os atos de terrorismo ocorridos recentemente no norte da província”. Sob uma foto de Despertai!, havia uma legenda: “Propaganda religiosa envenena a mente dos nativos.”

Durante aquele mesmo período, todas as Testemunhas de Jeová eram constantemente vigiadas. Toda a correspondência que chegava era monitorada de perto, de modo que a comunicação com a congênere em Portugal era limitada e era muito difícil receber publicações da Sociedade. Os que recebiam qualquer publicação pelo correio eram submetidos a interrogatórios pela polícia.

O governo colonial suspeitava de qualquer reunião com mais de duas pessoas que não fossem membros da mesma família. Usando de precaução, os irmãos mudavam os locais das reuniões e realizavam estas em pequenos grupos. Apesar disso, 130 assistiram à Comemoração da morte de Cristo em 1961. Os irmãos Mancoca e Filemon visitaram depois os que tinham comparecido para saber se tinham chegado em casa em segurança. A preocupação afetuosa que mostraram fortaleceu seus irmãos cristãos.

Um tempo de severas provações

A experiência pela qual Silvestre Simão passou dá uma idéia sobre o que os novos estudantes da Bíblia tinham de enfrentar naquele tempo. Em 1959, quando ainda freqüentava a escola, recebeu de um colega de sua classe o tratado “Inferno de Fogo — Verdade Bíblica ou Espantalho Pagão?”. Ele disse mais tarde: “A leitura desse tratado foi o ponto decisivo em minha vida. Ao aprender a verdade sobre o inferno, que me haviam ensinado a temer, deixei imediatamente de freqüentar a igreja e comecei a ler as publicações da Sociedade.”

Nessa época de muita tensão, as Testemunhas não convidavam logo às reuniões qualquer pessoa que dissesse estar interessada. Entretanto, depois de dois anos, acharam seguro convidar a Silvestre. Depois de sua primeira reunião, ele fez perguntas sobre o sábado. O que aprendeu o convenceu de que tinha encontrado a verdade. Mas quanto a prezava? Na semana seguinte, em 25 de junho de 1961, ao assistir à sua segunda reunião, seu apreço por aquilo que havia aprendido foi posto à prova. Uma patrulha militar interrompeu a reunião. Ordenou-se a todos os homens que fossem para o lado de fora, onde foram espancados com tubos de aço galvanizado. Um dos irmãos relembra: “Fomos espancados como alguém mataria um animal selvagem — tal como os homens batem num porco com um cacete para que morra antes de o venderem no mercado.” Silvestre Simão e os que estavam com ele ainda têm no corpo as marcas daquele espancamento. Depois, ordenou-se que marchassem em fila indiana até um estádio de futebol onde encontraram um grande grupo de europeus furiosos que acabavam de perder suas respectivas famílias na guerra no norte de Angola. Os soldados e a multidão ali, incluindo alguns europeus, de novo bateram nos irmãos de modo selvagem.

Silvestre e os outros irmãos foram colocados em caminhões e levados à penitenciária de São Paulo, que era controlada pela infame polícia secreta. Novamente os irmãos foram espancados de modo brutal e lançados uns em cima dos outros dentro de uma cela. Terrivelmente feridos e sangrando em profusão, foram deixados ali como mortos.

João Mancoca era considerado pelas autoridades o líder do grupo por ser o dirigente do Estudo de A Sentinela. Depois daquele terrível espancamento, ele foi levado para ser executado, sendo acusado de planejar atacar os brancos, conforme as autoridades haviam interpretado mal um parágrafo em A Sentinela. O irmão Mancoca perguntou o que achariam se encontrassem a mesma revista nas mãos de europeus ou de uma família no Brasil ou em Portugal? Explicou que se tratava de uma revista mundial que era estudada por pessoas de todas as nacionalidades. Para averiguarem isso, as autoridades o levaram de carro à casa de uma família portuguesa de Testemunhas de Jeová. Quando viram ali a mesma revista e ficaram sabendo que essa família havia estudado a mesma matéria, mudaram de idéia sobre a execução. O irmão Mancoca foi levado de volta à penitenciária de São Paulo, onde estavam os outros irmãos.

Nem todos, porém, se convenceram. Ao voltarem à penitenciária de São Paulo, o diretor do presídio, um português franzino, colocou o irmão Mancoca “sob os seus cuidados”. Os “cuidados” incluíam passar a tarde inteira debaixo do sol abrasador sem alimento. Depois, às cinco horas da tarde, o diretor pegou um chicote e começou a usá-lo no irmão Mancoca, que relembra: “Nunca vi uma pessoa chicotear como ele. Disse que não pararia até que eu caísse morto.” Continuou a espancá-lo cruelmente por uma hora, mas por fim o irmão Mancoca já não sentia mais nenhuma dor. Daí, de repente, sentiu sono durante o espancamento. O diretor do presídio, já exausto, ficou convencido de que Mancoca estava morrendo, de modo que um soldado arrastou seu corpo para o lado e o colocou debaixo de uma caixa. Quando as milícias chegaram à noite para se assegurar de que ele estava morto, o soldado lhes mostrou a caixa sob a qual Mancoca jazia e disse-lhes que ele já estava morto. Surpreendentemente, ele se recuperou, e aquele mesmo soldado ficou surpreso de vê-lo vivo no refeitório três meses depois. Contou então ao irmão Mancoca os pormenores do que acontecera naquela noite. A súbita vontade de dormir salvara o irmão da morte certa.

O irmão Mancoca pôde juntar-se novamente aos outros irmãos, e eles dirigiam reuniões na prisão. Três vezes durante sua detenção de cinco meses na penitenciária de São Paulo, proferiram discursos públicos com uns 300 na assistência. O testemunho dado na prisão fortaleceu as congregações fora de lá, porque muitos dos presos que mostraram interesse progrediram e foram batizados depois de serem soltos.

Durante os meses em que esteve nessa prisão, Silvestre Simão pôde juntar-se ao grupo ali para estudar a Bíblia de modo sistemático, obtendo assim a necessária força espiritual. De lá os membros do grupo foram transferidos para outros presídios e outros campos penais, onde foram submetidos a mais espancamentos selvagens e a trabalhos forçados. Depois de quatro anos de encarceramento em vários lugares, Silvestre foi posto em liberdade em novembro de 1965. Ele voltou a Luanda, onde se uniu ao grupo de Testemunhas que se reunia na região de Rangel. Estando a sua fé já testada, foi por fim batizado em 1967. Outros na prisão, incluindo o irmão Mancoca, não foram soltos senão em 1970, sendo depois encarcerados de novo.

“Nem aprenderão mais a guerra”

O país estava mergulhado em guerra. Mas a Bíblia diz que, quando as pessoas aprendem os caminhos de Jeová, ‘forjam das suas espadas relhas de arado, e das suas lanças, podadeiras e não aprendem mais a guerra’. (Isa. 2:3, 4) O que fariam os rapazes em Angola?

Em março de 1969, o governo começou uma campanha brutal contra todos os que se recusavam a comprometer sua neutralidade cristã. Entre os primeiros detidos em Luanda estavam António Gouveia e João Pereira. O irmão Gouveia foi apanhado no seu local de trabalho e lançado numa cela imunda. Só depois de 45 dias de detenção é que se permitiu que sua mãe o visitasse.

Fernando Gouveia, António Alberto e António Matías estavam entre os que foram detidos em Huambo. Eles eram cruelmente espancados três vezes por dia. Nem mesmo a mãe de Fernando o reconheceu depois dos espancamentos. Por fim, quando os irmãos escreveram uma carta ao comandante das forças armadas, expondo os tratamentos abusivos, diminuiu a crueldade.

António Gouveia relembra algumas das coisas que o ajudaram a perseverar. De tempos a tempos, sua mãe escondia uma página de A Sentinela nos alimentos que lhe levava. “Ajudou-nos a manter a mente alerta. Ajudou também a manter nossa espiritualidade.” Além disso, ele diz: “Pregávamos para as paredes sobre qualquer assunto bíblico que nos viesse à mente.” Para não perder o ânimo, alguns irmãos usavam um pouco de humor. Anunciavam em voz alta, como que divulgando um evento importante, o grande número de moscas que haviam matado em suas celas.

Entre os encarcerados em Angola, havia seis rapazes de Portugal enviados para executar serviço militar, mas que se recusaram a fazer isso por motivo de consciência. Um deles, David Mota, relembra: “Sentimos a proteção de Jeová em muitas ocasiões. As autoridades militares usavam de vários métodos na tentativa de quebrantar nossa integridade, concentrando-se em alguns dentre nós que ainda não tinham sido batizados. Uma tática que repetiam era acordar-nos no meio da noite, selecionar cinco do grupo, daí pegar um de nós, apontar-lhe na cabeça uma pistola supostamente carregada e puxar o gatilho. Trinta minutos depois de nos darem ordens para voltarmos aos nossos beliches, a mesma tática era repetida. Todos nós somos gratos a Jeová de estarmos vivos. Ganhamos por fim o respeito das autoridades e foi-nos permitido realizar reuniões na prisão. Como ficamos felizes de ver seis co-detentos ser batizados na prisão!”

Embora se dissesse aos irmãos que permaneceriam na prisão até atingirem a idade de 45 anos, eles não tiveram de esperar tanto tempo. Mas aqueles foram tempos difíceis. A experiência pela qual passaram refinou-lhes a fé. Hoje, a maioria desses irmãos serve como anciãos nas congregações.

Fim súbito do domínio colonial

Em 25 de abril de 1974, um golpe de estado em Portugal derrubou a ditadura ali. Terminou assim em Angola a luta colonial que durou 13 anos e as tropas portuguesas começaram a retirar-se. Estabeleceu-se em 31 de janeiro de 1975 um governo de transição que devia durar dez meses, mas durou apenas seis.

No início, as Testemunhas de Jeová beneficiaram-se dessa repentina mudança. Havia no presídio de Cabo Ledo 25 Testemunhas de Jeová, presas por motivo de neutralidade, que receberam anistia em maio. Seis eram de Portugal, as quais se recusaram a tomar partido em qualquer guerra, incluindo as guerras contra as colônias africanas. O que fariam esses irmãos europeus com sua inesperada liberdade? David Mota comenta: “Fortalecidos na prisão por causa de nossa estreita relação com Jeová, nós seis decidimos permanecer em Angola e entrar imediatamente no serviço de pioneiro.”

O clima de tolerância religiosa era uma experiência nova para as 1.500 Testemunhas em Angola. A polícia secreta não existia mais, as detenções pararam e as Testemunhas podiam reunir-se livremente. Elas percorreram Luanda para encontrar auditórios, centros recreativos ou quaisquer outros locais que pudessem comportar o crescente número de Testemunhas de Jeová. Até então, as 18 congregações no país reuniam-se em lares particulares.

Planejou-se realizar uma reunião de serviço especial no Pavilhão do Ferrovia. Entre os 400 irmãos convidados de diversas congregações, estava José Augusto, atualmente membro da família de Betel em Portugal. Ele relembra: “Pela primeira vez eu estava vendo ali tantos irmãos e irmãs juntos num clima de liberdade! Mal podíamos acreditar que isso estava acontecendo. O ambiente era de emoção ao passo que todos se misturavam, usufruindo associação com outras congregações.”

Alegrias espirituais num período turbulento

Havia luta pelo poder entre os três movimentos nacionais de rivalidade: o MPLA, a FNLA e a UNITA. Grupos armados das facções rivais invadiram Luanda e estabeleceram quartéis generais. “Inicialmente, havia apenas tiros de fuzis”, relata Luis Sabino, testemunha ocular. “Depois, com a intensificação do ódio, usaram-se armas mais poderosas. Apareceram tanques de guerra nas ruas e abriu-se fogo de metralhadoras. Centenas de casas foram destruídas, também as de nossos irmãos.”

A prudência ditava que as reuniões congregacionais continuassem a ser realizadas nos locais de estudo de livro. “Era comum as reuniões serem interrompidas por rajadas de fogo de metralhadoras a curta distância”, recorda-se Manuel Cunha. “Todos ficavam deitados no chão até parar o tiroteio, depois o programa continuava. Às vezes, apagávamos as luzes para evitar chamar atenção. Ao terminar a reunião, os irmãos saíam cautelosamente.”

Apesar dos perigos, os irmãos estavam decididos a expandir seu ministério. Delucírio Oliveira explica: “Nossa atividade havia sido proibida sob o governo colonial, de modo que ir de casa em casa livremente era uma experiência nova para a maioria dos publicadores. Os pioneiros tomaram a dianteira e incentivaram outros a acompanhá-los. O apoio dado às reuniões para serviço de campo era muito bom.” Mas havia sinais de guerra por toda a volta. Ele continua: “Era comum ouvir tiroteios durante o serviço de campo. Às vezes, tínhamos de nos desviar da calçada para não pisar em sangue fresco no nosso caminho. Outras vezes, deparávamo-nos com cadáveres nas ruas.”

Duas de nossas irmãs, uma delas pioneira, estavam no ministério de campo quando bombas explodiram perto delas. Uma das irmãs agachou-se o mais que pôde junto a uma parede e sugeriu que fossem para casa. A pioneira incentivou-a a continuar mais um pouco, assegurando-lhe que partiriam se recomeçasse o bombardeio. Mais tarde, naquela manhã, iniciaram um estudo bíblico com um casal que solicitou estudar três vezes por semana.

A situação instável não impediu os irmãos de realizar sua primeira assembléia de circuito num auditório público em março de 1975. Alugou-se para a ocasião o maior pavilhão coberto de Luanda, a Cidadela Desportiva. Como precaução, só foram convidados os que assistiam regularmente às reuniões. Mesmo assim, a assistência chegou a 2.888.

Visto que tudo tinha corrido bem, os irmãos convidaram para a segunda assembléia as pessoas interessadas e os que estudavam a Bíblia. Aníbal Magalhães relata: “O que nos impressionou ao entrarmos no pavilhão foram as grandes letras acima da tribuna com o tema da assembléia: ‘Que Sorte de Pessoas Deveis Ser. — 2 Ped. 3:11.’ Antes de começar o programa, o pavilhão estava totalmente lotado. Quando foi anunciada a assistência de 7.713 pessoas, ficamos maravilhados. Muitos não conseguiam conter as lágrimas de alegria. O que víamos indicava claramente que havia um grande trabalho de ajuntamento à frente, e agradecemos a Jeová que nos trouxe em segurança até este dia.”

Após a oração final, enquanto os irmãos limpavam o local, de novo houve tiroteios, desta vez na área inteira. Era mais um lembrete de que ‘residiam entre os odiadores da paz’. — Sal. 120:6.

Dilacerado pela guerra

O país estava sendo dilacerado pelos três grupos políticos rivais, e Luanda se tornou o principal campo de batalha. Foram formadas milícias por meio de recrutamento forçado de homens e mulheres, até mesmo de crianças. Meninos uniformizados de apenas 12 anos de idade começaram a aparecer nas ruas, com fuzis automáticos que usavam aleatoriamente. Fogo de metralhadoras, granadas em explosão, foguetes e mísseis contribuíram para diversas noites de insônia para muitos. Angola estava mergulhada numa guerra sem trégua. Em resultado disso, uma inteira geração de jovens angolanos foi concebida, nasceu e criou-se numa atmosfera de violência, com explosões de armas de fogo e de bombas como barulho de fundo.

Para fortalecerem seus irmãos cristãos, fiéis pastores espirituais faziam-lhes regularmente breves visitas domiciliares em sua viagem de ida e volta do trabalho. Verificavam se todos estavam bem e com freqüência liam um ou dois textos bíblicos com a família.

Exigia coragem e confiança em Jeová assistir às reuniões e participar no ministério de campo. Mas ser identificado como Testemunha de Jeová era muitas vezes a melhor proteção. Faustino da Rocha Pinto estava indo ao escritório da Sociedade quando subitamente um soldado lhe apontou um fuzil e disse brusca e asperamente: “Para onde vai? Qual sua atividade? Entregue-nos sua pasta!” Ao abri-la, o soldado só encontrou uma Bíblia e algumas publicações da Torre de Vigia. Sua atitude abrandou-se imediatamente. “Então, é Testemunha de Jeová! Sinto muito; desculpe-me. Pode seguir seu caminho.”

Em outra ocasião, um soldado disse asperamente a uma irmã: “Que movimento apóia?” Ela respondeu: “Não estou associada com nenhum movimento. Sou Testemunha de Jeová.” Nisso o soldado disse a seus camaradas: “Olhem para ela! Olhem de perto para ela! Olhem para a saia dela! Vejam como ela está vestida decentemente. Ela não é como as outras moças. É Testemunha de Jeová.” Permitiu-se à irmã que continuasse seu caminho, com o gentil aviso para que tomasse cuidado.

Com a intensificação da luta, tornou-se cada vez mais difícil a comunicação com as congregações, especialmente com as que ficavam nas províncias. As tropas invadiam uma cidade, saqueavam as casas e ateavam fogo naquilo que não levavam. Isso forçou milhares de pessoas, incluindo muitas Testemunhas de Jeová, a fugir para o mato. Em Banga, onde 300 estavam assistindo a reuniões com os 100 publicadores, foram todos forçados a abandonar suas casas e a refugiar-se no mato por vários dias seguidos. As congregações em Jamba e em Cela também fugiram com apenas ‘sua alma por despojo’. (Jer. 39:18) A maioria das Testemunhas européias que ainda estavam em Lubango partiram para Windhoek, na vizinha Namíbia.

Tornou-se quase impossível levar publicações a esses irmãos no mato. Algumas congregações, como as em Malange, Lobito, Benguela, Gabela, Huambo e Lubango, ficaram sem comunicação durante meses.

Um período triste

Logo que foi tirado o jugo colonial, milhares de portugueses começaram a abandonar o país. Com a anarquia que se alastrava, a fuga se tornava mais urgente. A maioria conseguia levar consigo muito pouco de seus pertences. Para ilustrar como era intenso o ódio pelos brancos, um partido político declarou que mataria até mesmo mulatos, por causa da união de seus ancestrais com os brancos.

Naturalmente, nem nossos irmãos portugueses nem os angolanos nutriam esse ódio. Havia um forte vínculo de amor fraterno entre eles. O retorno dos portugueses à sua terra significou que muitos amigos achegados estavam partindo. Até junho de 1975, todos os irmãos portugueses que estavam na dianteira da obra tiveram de partir. A supervisão e a atividade de pregação e de pastoreio do rebanho de Deus ficaram aos cuidados de fiéis irmãos locais. A maioria desses eram chefes de família que tinham emprego secular por período integral. Embora contristados com a partida de seus irmãos portugueses, estavam decididos a continuar sua atividade com a ajuda de Jeová.

Que situação enfrentaram? A congênere de Portugal logo recebeu a seguinte mensagem inquietante do escritório em Luanda: “Neste momento, a cidade está sendo bombardeada. As estradas estão bloqueadas. A comunicação com outras cidades está cortada. O porto de Luanda está fechado. Estão acabando os alimentos nas casas comerciais. Começaram os roubos e os saques. Às 21 horas, há toque de recolher. Qualquer pessoa na rua depois dessa hora pode ser baleada.”

Os servos de Jeová prosseguem

Esse período de agitação política foi um tempo de crescimento espiritual sem precedentes. Atingiu-se o auge de 3.055 publicadores, um aumento de 68% em um ano. A assistência à Comemoração chegou a 11.490!

Em 5 de setembro de 1975, chegaram notícias por muito tempo esperadas. O ministro da justiça do governo de transição declarou as Testemunhas de Jeová uma “confissão religiosa” reconhecida legalmente. João Mancoca relembra: “Houve total euforia entre os irmãos. Nunca haviam tido completa liberdade para adorar abertamente. Foi como se as portas da prisão tivessem sido abertas por completo. Pela primeira vez podiam ser realizadas reuniões e assembléias de circuito com pleno conhecimento do público em geral. As assembléias de circuito na primavera de 1976 revelaram-se um grande impulso para a obra e fortaleceram a determinação que se tornaria necessária nos anos à frente.”

Foram planejadas cinco assembléias de circuito, mas, como precaução, apenas três ou quatro congregações se reuniram de cada vez. Três irmãos foram também designados para visitar congregações nos fins de semana como superintendentes de circuito.

As circunstâncias em Angola, no decorrer dos anos, não haviam permitido que superintendentes cursassem quaisquer das escolas especiais organizadas pela Sociedade. Assim, planejou-se a realização da primeira Escola do Ministério do Reino para anciãos no período de 19-24 de maio de 1976. Dois irmãos angolanos cursaram a escola em Portugal e receberam treinamento. Ao retornarem, eles dirigiram a escola em Luanda, com a presença de Mário P. Oliveira da congênere de Portugal para ajudar.

Os 23 anciãos apreciaram grandemente as instruções baseadas na Bíblia para ajudá-los a ‘pastorear o rebanho de Deus’. (1 Ped. 5:2) Carlos Cadi, que servia na época como superintendente de circuito, lembra-se do impacto causado pela escola: “Os anciãos puderam ver a organização de Jeová sob um novo prisma. A escola ensinou aos irmãos o aspecto educativo da organização de Jeová. Aprenderam a maneira de ensinar os irmãos nas congregações e a aplicar os princípios bíblicos para solucionar problemas. A escola ajudou também os anciãos a organizar melhor as atividades congregacionais, fazendo uso mais pleno das habilidades dos servos ministeriais que serviam com eles.”

O reconhecimento legal significou também que podiam ser importadas Bíblias e publicações bíblicas. Em cinco meses, algumas congregações receberam suas primeiras revistas. Que grande bênção foi ter finalmente as revistas A Sentinela e Despertai! completas, com 32 páginas. Os irmãos passaram logo pela ‘porta larga para atividade, que se lhes abria’. (1 Cor. 16:9) Entretanto, as condições instáveis no país causaram outros problemas graves.

Embora a independência oficial de Angola ocorresse em 11 de novembro de 1975, conforme planejada, a luta entre os principais partidos políticos transformou-se rapidamente numa guerra civil total. Estabeleceram-se repúblicas independentes, com Luanda como capital do MPLA marxista. Huambo tornou-se a capital da coalizão da UNITA e da FNLA.

A propaganda política de um grupo contra outro produziu ódio racial e tribal sem precedentes. Na capital, matar a sangue frio — até mesmo atear fogo em pessoas nas ruas — era a ordem do dia. Muitas vezes, a única ofensa das vítimas era que falavam uma língua que indicava que eram de uma região fora de Luanda. Esse ódio pelos de fora gerou uma tensão que causou grande deslocamento da população, ao passo que pessoas do norte e do sul do país fugiam, retornando às suas províncias de origem. Alguns irmãos, porém, corajosamente permaneceram nas áreas que não eram sua província natal para cuidar das necessidades de seus irmãos espirituais.

“Viva Jeová!”

As Testemunhas de Jeová de novo enfrentaram perseguição atroz. As Testemunhas em Luanda foram intimadas a comparecer perante comitês da ação que tentaram forçá-las a comprar cartões de partido político. Nessa atmosfera muito carregada, o Bureau Político do Comitê Central do MPLA acusou as Testemunhas de incitarem as pessoas a desobedecer ao Estado, a desrespeitar a bandeira nacional e a recusar prestar serviço militar. As explicações dadas pelas Testemunhas foram desconsideradas.

Em março de 1976, foi enviado de Portugal para Angola um carregamento de publicações bíblicas. Continha 3.000 Bíblias, 17.000 exemplares do livro A Verdade Que Conduz à Vida Eterna, 3.000 exemplares do livro Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado, bem como revistas. Tudo isso foi confiscado e queimado pelas autoridades.

Em 27 de maio de 1976, as transmissões radiofônicas do governo orientavam todos os comitês de ação e organizações de massas a monitorar de perto as atividades das Testemunhas de Jeová. A Igreja Católica fazia diariamente anúncios pela sua emissora de rádio no sentido de que as Testemunhas de Jeová eram subversivas.

As Testemunhas eram forçadas a sair das filas de alimentos. Turbas se juntavam do lado de fora nos locais onde se realizavam reuniões congregacionais. Crianças eram hostilizadas nas escolas. Os filhos de José dos Santos Cardoso e sua esposa, Brígida, foram intensamente pressionados a recitar lemas políticos, a cantar o hino nacional e a gritar “Abaixo com Jeová”. Foram maltratados por se recusarem a fazer isso. José Jr., com nove anos de idade na época, falou subitamente e disse: “OK, vou dizer ‘Viva!’” Todos ficaram na expectativa. Por fim, o menino gritou “Viva Jeová!” Antes de se aperceberem do que ele havia dito, gritaram todos juntos “Viva!”

No “forno”

O partido que governava estava decidido a forçar as Testemunhas a juntar-se ao exército. Isto resultou em mais perseguição maldosa.

Em 17 de fevereiro de 1977, Artur Wanakambi, um irmão zeloso, da província de Huíla, tentou sem êxito explicar sua neutralidade. Fizeram com que ele e mais três irmãos desfilassem pelas ruas a caminho da prisão. Mandou-se aos observadores, incluindo os varredores de rua, que batessem neles. No dia seguinte, as respectivas esposas desses três irmãos foram à prisão para saber do destino deles. Depois de esperarem muito tempo, elas foram chicoteadas sem dó, ficando machucadas e sangrando. Naquela tarde, as irmãs acabaram indo parar na mesma prisão onde os maridos estavam.

O irmão Teles conta o que aconteceu a um outro grupo de irmãos que foram presos dez dias mais tarde: “Trinta e cinco de nós fomos colocados no ‘forno’. Era um aposento de sete metros de comprimento e três metros de largura e de altura. No teto de concreto armado, havia dois buracos pequenos para entrada de ar, tão pequenos que não dava para passar a mão. Era a estação mais quente do ano, e a cela era mesmo um forno. Visto que queriam acabar conosco, fecharam aqueles dois buracos.

“No quarto dia, imploramos a Jeová que nos desse forças para agüentarmos o calor implacável. Lembramos dos três jovens fiéis dos dias de Daniel que foram lançados na fornalha ardente. No dia seguinte, por volta das três horas da madrugada, houve uma forte pancada na porta e ela se abriu. Como nos sentimos aliviados de respirar um pouquinho de ar fresco! Era o carcereiro que, meio sonolento, abrira a porta e daí desfalecera. Uns dez minutos depois, o carcereiro levantou-se e fechou a porta sem dizer uma palavra. Agradecemos a Jeová os poucos instantes preciosos de ar fresco.

“Alguns dias mais tarde, mais sete irmãos foram lançados na cela conosco. Não havia mais espaço para nos sentarmos. Fomos espancados diversas vezes. O calor aumentou, e os tecidos necrosados e os ferimentos dos espancamentos cheiravam muito mal.

“Em 23 de março celebramos a Comemoração, embora fosse apenas um discurso sem os emblemas. Até então, éramos 45 ao todo. Alguns de nós passamos 52 dias no ‘forno’, mas sobrevivemos.”

Depois de serem tirados do “forno”, foram mandados para o campo penal de Sakassange, a uns 1.300 quilômetros de distância, na província de Moxico.

Perseguição ‘legalizada’

Em 8 de março de 1978, o Bureau Político do Comitê Central do MPLA declarou “a igreja ‘Testemunhas de Jeová’” ilegal e a proscreveu. Para garantir ampla publicidade, o anúncio foi feito três vezes por dia pela estação de rádio de Luanda. A declaração original foi em português, mas, para que todos ficassem sabendo das notícias, o anúncio foi também transmitido durante uma semana nas línguas chokwe, kikongo, kimbundu e umbundo. Por fim, a declaração foi publicada no “Boletim Militante” e também no Jornal de Angola, em 14 de março de 1978. Na realidade, a proscrição simplesmente “legalizou” a brutalidade que já vinha sendo sofrida.

As denúncias feitas pela Organização de Defesa Popular (ODP) aumentavam. Muitas Testemunhas de Jeová foram presas sem julgamento. Fizeram-se rondas de surpresa nas fábricas em toda a Luanda. Na fábrica de malas chamada Malas Onil, 14 Testemunhas foram detidas. Na cidade de Lubango, mais 13 foram presas. Alguns dias mais tarde, os relatórios confirmaram a detenção de 50 em Ndalatando. Em apenas uma semana depois da proscrição, no mínimo 150 irmãos e irmãs foram presos.

Isto foi seguido de demissões arbitrárias de Testemunhas de seus empregos. Não foram levados em consideração os anos de conduta exemplar, a competência ou o que haviam realizado. Com efeito, alguns dos que foram demitidos haviam ocupado posições de responsabilidade relacionadas com o desenvolvimento econômico do país.

Nem mesmo as mulheres foram poupadas. Emília Pereira estava na frente de sua casa quando um militar a viu e lhe perguntou por que ela não era membro das milícias. Ao responder que não gostava de nada que tinha que ver com matança ou derramamento de sangue, ele entendeu que era Testemunha de Jeová. Confirmando ela isso, foi-lhe ordenado que entrasse num caminhão que estava estacionado ali. Suas duas irmãs saíram para ver o que estava acontecendo, e elas também foram empurradas para dentro do caminhão. Nesse meio tempo, o pai delas chegou em casa. O militar ordenou-lhe que entrasse no caminhão. Quando estavam de saída, um irmão que morava ali perto perguntou o que estava acontecendo. Ele também foi agarrado e forçado a entrar no caminhão.

Foram levados a um complexo carcerário onde as irmãs foram colocadas na ala das mulheres. Uma noite após outra, os militares tentavam atacar sexualmente as jovens irmãs, mas elas se agarravam umas às outras, gritavam e oravam em voz alta. A reação delas frustrou a má intenção desses homens, e elas não foram violentadas.

Os irmãos na província de Malanje foram também severamente provados. José António Bartolomeu, de 74 anos de idade, foi maltratado tão cruelmente que morreu. Domingas António ficou tão enfraquecida depois de ser presa e espancada repetidas vezes que morreu durante um surto de malária. Manuel Ribeiro foi envenenado e morreu por ter escrito da prisão uma carta para sua família.

Uma semana depois da proscrição, realizou-se uma reunião com os anciãos de todas as congregações de Luanda. Eles receberam encorajamento bíblico e orientações sobre suas atividades futuras, sendo isto transmitido às congregações. Fortaleceu-se sua resolução ao considerarem o texto do ano de 1978: “Não prevalecerão contra ti, pois ‘eu [Jeová] estou contigo . . . para te livrar.’” — Jer. 1:19.

Apelação para as autoridades governamentais

Em 21 de março de 1978, os três irmãos que serviam como diretores da Associação das Testemunhas de Jeová em Angola fizeram uma apelação para o Bureau Político do MPLA, instando que as violações da lei fossem determinadas pelos tribunais e que cessasse a prisão ilegal de Testemunhas de Jeová. Cópias dessa carta foram enviadas ao presidente da república e ao primeiro-ministro, bem como aos ministros da defesa, da justiça e da educação e cultura. Nenhuma resposta foi recebida.

Seguindo o exemplo do apóstolo Paulo, fez-se outra apelação para a mais alta autoridade do país. (Atos 25:11) Essa carta, enviada pela congênere de Portugal, solicitava respeitosamente ao Presidente da República Popular de Angola que examinasse os antecedentes das Testemunhas de Jeová e lhes concedesse uma audiência. Solicitou-se que os tribunais investigassem os fatos a respeito de cada uma das Testemunhas de Jeová detidas nas prisões. Dessa vez, a congênere de Portugal recebeu uma resposta que dizia que o assunto seria investigado.

Profundamente comovido pela firme determinação

A guerra civil continuava em Angola, de modo que havia poucos visitantes do exterior. Entretanto, em 1979, a comissão do país em Angola foi avisada que Albert Olih, um superintendente da congênere da Nigéria, chegaria em agosto. Como os irmãos se sentiram felizes!

O irmão Olih disse: “Para mim era como se eu estivesse uma semana inteira num quartel do exército. Para onde quer que se olhasse, havia soldados armados.” Ele não conseguia dormir à noite por causa dos tiroteios nas ruas.

As Testemunhas angolanas haviam visto mudanças bruscas nos anos precedentes. Entre 1973, quando o país ainda estava sob o domínio colonial, e 1976, houve um aumento de 266% no número de publicadores. Depois, quando a perseguição se intensificou em 1977, seguida da proscrição em 1978, não houve mais aumentos. Muitas Testemunhas de Jeová no país haviam sido batizadas um tanto recentemente — 1.000 delas só em 1975. Embora houvesse 31 congregações, não havia anciãos em muitas delas. Sem a bondosa ajuda de pastores espirituais, alguns problemas sérios e casos de impureza moral não tinham sido resolvidos. Congregações inteiras em lugares como Malanje, Waku Kungo e Ndalatando estavam agora em campos penais.

Ao chegar, o irmão Olih recebeu uma enorme agenda que indicava as áreas que precisavam de atenção. Explicou-se como, nas circunstâncias existentes, as Testemunhas locais podiam cumprir o ministério que Deus lhes confiou. Foi dada orientação sobre a maneira de produzir publicações, apesar da escassez de papel. Considerou-se também a necessidade de mais publicações nos idiomas locais, mas, naturalmente, levaria tempo para encontrar e treinar tradutores qualificados.

Cuidou-se também de problemas nas congregações. O irmão Olih enfatizou que todos, incluindo os anciãos, precisam viver segundo as normas da Bíblia. Ninguém devia achar que não precisa de conselhos. Foram respondidas perguntas sobre qualificações para batismo, sobre legalizar casamentos e sobre as visitas de superintendentes de circuito às congregações. Os irmãos angolanos apreciaram a provisão feita pela Sociedade para que recebessem orientação bíblica por meio desse irmão experiente.

Durante a visita do irmão Olih, realizou-se uma reunião com anciãos de Luanda e com outros que puderam vir de outros lugares. Às 10 horas da manhã, eles começaram a chegar um por um para que não se chamasse atenção para o local da reunião. Entretanto, antes de começar a reunião, às 19 horas, mudou-se o local duas vezes, porque parecia que estava sendo vigiado. Quando o irmão Olih chegou ao terceiro local, 47 anciãos já estavam sentados no quintal aguardando-o. Quando foram transmitidas as saudações da família de Betel da Nigéria, os irmãos acenaram em silêncio com as mãos, agradecendo. Seu discurso de uma hora foi uma consideração bíblica sobre a provisão de anciãos, ressaltando a necessidade de mais anciãos na congregação cristã e explicando os deveres deles. Depois do discurso, os irmãos fizeram perguntas por mais duas horas até a hora em que tinham de partir para que chegassem em casa com segurança antes do toque de recolher.

Como se sentiu o irmão Olih nessa semana em que serviu os irmãos angolanos? Ele disse: “Posso dizer que realmente tirei muito proveito. Fiquei muito encorajado pela firme determinação dos irmãos e das irmãs que servem a Jeová apesar das dificuldades que enfrentam. Deixei Angola com o coração cheio de orações e com lágrimas nos olhos por causa desses irmãos que, mesmo sofrendo, sorriam por causa de sua maravilhosa esperança.”

Visita para complementar a ajuda prestada

Um ano após a visita do irmão Olih, o Corpo Governante enviou Albert Olugbebi, também da congênere da Nigéria, para servir os irmãos em Angola. Ele recomendou que se programassem as aulas da Escola do Serviço de Pioneiro para os 50 pioneiros regulares. Também, incentivou-os a procurar realizar assembléias de circuito a cada seis meses, mas com número limitado de pessoas.

Durante a visita do irmão Olugbebi, foram realizadas três reuniões com grupos de anciãos e irmãos que cuidavam de responsabilidades nas congregações onde não havia anciãos. A assistência foi de 102 pessoas. Foram dados conselhos bíblicos sobre a necessidade de anciãos se apegarem aos princípios bíblicos e se tornarem exemplos para o rebanho, não dominando sobre este. (1 Ped. 5:3) Foram respondidas perguntas sobre o procedimento a seguir ao se fazerem recomendações para designar anciãos nas congregações onde não havia ainda nenhum.

Entre os presentes a essa reunião, estava Silvestre Simão, cuja fé já havia sido provada durante quase quatro anos na prisão e em campos penais. Depois de servir como ancião por diversos anos, foram-lhe confiadas responsabilidades maiores como superintendente de circuito quando os irmãos europeus foram forçados a deixar Angola em meados dos anos 70. Agora, com a provisão de assembléias de circuito a cada seis meses, havia necessidade de um superintendente de distrito. Embora o irmão Simão fosse pai de seis filhos e tivesse responsabilidades seculares para cuidar da família, aceitou essa nova designação. Seu desempenho nisso tem sido exemplar nos últimos 20 anos. Ele serve também como membro da Comissão de Filial.

Ao terminar sua visita, o irmão Olugbebi relatou o progresso animador: apesar de Testemunhas ainda precisarem reunir-se e pregar com cautela, parecia estar diminuindo a perseguição maldosa contra os que tinham idade para recrutamento militar. Com efeito, embora ainda houvesse entre 150 e 200 irmãos nas prisões ou em campos penais, esse número diminuiu para 30 até março de 1982.

Era um desafio a distribuição do alimento espiritual

Durante todo o período da proscrição, era de alta prioridade o fornecimento regular do alimento espiritual. Isto muitas vezes acarretava grandes riscos.

Em primeiro lugar, era muito difícil conseguir papel para mimeografar A Sentinela. Precisava-se obter autorização do governo para comprar papel. Embora houvesse mais de 3.000 publicadores, por algum tempo só podiam ser produzidas entre 800 e 1.000 cópias de artigos de estudo, por causa do limitado fornecimento de papel. Mesmo assim, usando pequenas impressoras, os irmãos conseguiam produzir exemplares de livros pequenos, com capas flexíveis, como o livro A Verdade Que Conduz à Vida Eterna.

Arriscando-se muito, Fernando Figueiredo e Francisco João Manuel aceitaram a incumbência de reproduzir publicações. Esses irmãos dinâmicos encontraram novos locais para expandir seu trabalho de duplicação. Às vezes, era preciso mudar de lugar por motivo de segurança. Em alguns lugares, o mimeógrafo ficava numa sala à prova de som, sem janelas e sem ventilação, o que tornava muito difíceis as condições de trabalho. Numa sala ao lado, outros voluntários paginavam e grampeavam as revistas. Eles tinham de terminar o serviço de grampear e de empacotar para que o material pudesse ser distribuído naquela mesma noite. Era preciso limpar o local para não deixar nenhum vestígio do trabalho realizado ali, a fim de que não ficasse nada que chamasse atenção. Com o aumento da produção, dois mimeógrafos operavam simultaneamente na “cozinha”, o lugar onde se preparavam publicações que continham o alimento espiritual. Uma equipe de irmãos trabalhava diariamente, datilografando estênceis, revisando, duplicando, paginando, grampeando as revistas e fazendo a entrega delas às congregações.

A entrega de publicações às congregações dispersas fora de Luanda tinha de ser feita por mensageiros. Essa era uma designação perigosa. Um irmão que serviu como mensageiro relata: “Alguns meses depois de ser oficialmente declarada a proscrição, viajei para a província de Benguela por causa de meu trabalho secular. O escritório local da Sociedade me havia dado certos itens para serem entregues às congregações em Lobito e em Benguela. Eu não conhecia nenhum irmão nessas cidades. A única referência que eu tinha para contatar os irmãos era um número de telefone de um ancião em Benguela. Por motivos de segurança, a única identificação seria o nome Família de Isaías.

“Ao chegar a Benguela, tudo parecia correr bem. No aeroporto, não me revistaram em razão da natureza de meu trabalho, embora fosse costume revistar a todos. O pacote que eu levava chegou intato. Uma vez na cidade, telefonei imediatamente aos irmãos para que pudessem vir apanhar o pacote. O irmão com quem falei disse que ele não estava passando bem, mas prometeu enviar alguém ao hotel para pegar o pacote. Por algum motivo não explicado, nos quatro dias que permaneci no hotel ninguém veio buscar o pacote, apesar de eu telefonar diariamente para o irmão.

“No dia de minha partida, eu não tinha outra escolha senão levar de volta comigo o pacote para Luanda. Quando cheguei ao aeroporto, o chefe da delegação insistiu que todos os membros de sua delegação e suas bagagens fossem revistados para servir de exemplo a outros viajantes. Eu só via duas opções: (1) jogar o pacote num tambor de lixo ou (2) conservá-lo comigo e ser detido.

“Depois de orar a Jeová, lembrei-me de Provérbios 29:25: ‘Tremer diante de homens é o que arma um laço, mas quem confia em Jeová será protegido.’ Decidi enfrentar a situação, pois seria um grande desperdício jogar fora tanto alimento espiritual.

“Coloquei-me no fim da fila para evitar tumulto quando a polícia encontrasse os livros e as revistas. Quando faltavam duas pessoas para serem revistadas, ouvi alguém dizer: ‘Atenção, por favor, um senhor aqui deseja contatar um membro da delegação procedente de Luanda a respeito de um pacote.’ Quando ouvi isso, disse comigo mesmo, ‘Jeová ouviu minha oração. Estou vendo o cumprimento de Isaías 59:1: “A mão de Jeová não ficou tão curta que não possa salvar,” ’ e apressei-me em sair de lá. Ao encontrar o irmão, só tive tempo de dizer Família de Isaías. Ele respondeu e pegou o pacote. Tive de voltar às pressas, pois o avião estava prestes a sair, de modo que nem tive tempo de conversar com o irmão. Sim, Jeová é ‘a nossa salvação no tempo da aflição’.” — Isa. 33:2.

Cuidar do rebanho, apesar do perigo

A guerra — o cavaleiro do cavalo cor de fogo do Apocalipse — continuava a arruinar a vida das pessoas em Angola. (Rev. 6:4) Cidades e fábricas foram bombardeadas, estradas foram semeadas de minas, pontes foram dinamitadas, o abastecimento de água foi sabotado e aldeias foram atacadas. O massacre de civis tornou-se ocorrência cotidiana. Plantações foram destruídas e os camponeses fugiram para as cidades. Os refugiados de guerra afluíram a Luanda. O racionamento de alimentos e o mercado negro tornaram um grande desafio a sobrevivência no dia-a-dia. Mas a cooperação amorosa entre as Testemunhas de Jeová ajudou muitos a sobreviver em circunstâncias que de outra forma seria impossível.

Nesse período perigoso, Rui Gonçalves, Hélder Silva e outros arriscaram a vida para visitar congregações espalhadas por todo o país. Descrevendo como essas visitas tinham de ser organizadas, o irmão Gonçalves escreveu: “A primeira visita de um superintendente de circuito em Tombua foi em maio de 1982. Os 35 irmãos começaram a chegar ao local de reunião a intervalos bem planejados, a partir das 10 horas da manhã. Esperaram em silêncio. Toda a movimentação na cidade era controlada pela ODP [Organização de Defesa Popular]. Cheguei sob o manto da noite, 11 horas mais tarde, às 21 horas. Trinta minutos depois, começou a reunião e ela durou até as 4h40 da manhã.”

Os que participavam no serviço de circuito eram na maioria irmãos casados que tinham filhos. Mas faziam o melhor que podiam para cuidar dos interesses espirituais das congregações. Um dos irmãos, agora membro da Comissão de Filial, explicou o que estava envolvido numa visita rotineira de circuito: “Cada congregação seria visitada durante uma semana, conforme programado. Entretanto, as visitas começavam na segunda-feira em vez de na terça-feira. Isto se dava porque não era possível a congregação inteira reunir-se num só local. Faziam-se visitas a cada grupo de Estudo de Livro de Congregação. Nas congregações grandes, vários grupos eram visitados na mesma noite. Os horários das reuniões eram desencontrados, assim o superintendente de circuito podia ir de um grupo a outro. Ele repetia o programa em benefício de cada grupo. Portanto, durante a semana, ele proferia cada um de seus discursos de 7 a 21 vezes. A agenda da semana era bem cheia e extenuante, mas os irmãos perseveraram em dar encorajamento às congregações.”

Rui Gonçalves lembra-se vividamente de uma viagem penosa que fez em janeiro de 1983 para a cidade de Cubal. A viagem quase foi fatal. Ele conta: “A única maneira de visitar essa congregação era viajar com a proteção de uma escolta de soldados. Depois de uma verificação cuidadosa da situação, os militares autorizaram que os 35 veículos começassem a viagem. Nós viajamos no carro do irmão Godinho, que era o terceiro num comboio de seis veículos. Depois de apenas duas horas de viagem, as guerrilhas lançaram um míssil que destruiu o primeiro caminhão militar. Foi seguido logo de outro míssil que destruiu o segundo veículo. Duas bombas atingiram o nosso carro, mas não explodiram. Com o carro andando, o irmão Godinho gritou dizendo que todos pulassem para fora. Quando corri para me proteger no mato, uma bala destruiu quase toda minha orelha esquerda e eu desmaiei.”

Antes de desmaiar, ele viu três guerrilheiros que iam ao encalço dos outros irmãos, mas os irmãos escaparam fugindo para dentro da selva. O irmão Gonçalves continua o relato: “Quando recobrei os sentidos, estava com a cabeça coberta de sangue. Diversas horas depois, arrastei-me de volta para a estrada. Uma unidade militar me encontrou, administrou-me os primeiros socorros e me levou ao hospital em Benguela.” Ele ficou sabendo mais tarde que todos os carros do comboio haviam sido incendiados ou destruídos. Doze pessoas naqueles carros morreram e outras 11 ficaram gravemente feridas por balas. Os irmãos que estavam viajando com o irmão Gonçalves foram os únicos a não serem atingidos pelas balas. Embora o irmão Gonçalves tenha perdido quase toda a orelha e alguns pertences, ele conclui dizendo: “Demos graças a Jeová de todo o coração.”

Compartilharam a água da vida

Numa época em que a maioria dos angolanos só pensava em sobreviver, as Testemunhas de Jeová desejavam muito divulgar “boas novas de algo melhor” por todo esse grande território. (Isa. 52:7) Como executavam esse trabalho?

Um pioneiro em Luanda explica que ele, a esposa e a filha pequena faziam juntos a pregação. Depois de cumprimentarem o morador, pediam um copo de água para a menininha. Se o morador desse água, perguntavam-lhe se conhecia uma espécie de água que traz benefícios muito maiores do que a água fresca que bondosamente deu à sua filha. As pessoas que tinham curiosidade em saber perguntavam: ‘Que espécie de água é essa?’ A família fazia então uma descrição das bênçãos do Reino de Deus e explicava a esperança da vida eterna. — João 4:7-15.

Não carregavam pastas de livros, nem Bíblias, nem publicações no ministério de pregação. Mas, quando o morador tinha uma Bíblia e desejava ler sobre essas coisas, usavam a Bíblia do morador para continuar a explicação. Quando alguém mostrava interesse, eles o visitavam de novo. Usando abordagens discretas como essa, as Testemunhas conseguiam encontrar pessoas interessadas, e as congregações eram abençoadas com aumentos regulares.

Um homem de Deus

Áreas remotas também eram alcançadas com as boas novas. Estas penetraram na região de Gambos, perto da fronteira com a Namíbia, por meio dos esforços de Tchande Cuituna. Ele ouvira a mensagem do Reino pela primeira vez onde na época era a Rodésia. Depois de trabalhar por algum tempo nas minas da África do Sul, ele voltou para a sua terra e concentrou-se na criação de gado. Fazia regularmente viagens à África do Sul para obter publicações da Sociedade e, numa dessas viagens, em 1961, ele se batizou. Depois disso, passou a divulgar zelosamente as boas novas entre as pessoas em sua região.

Ele carregava seu carro de boi com água, alimentos e publicações bíblicas e saía a pregar de quimbo em quimbo (de aldeia em aldeia) durante dois ou três meses seguidos. Quando o carro quebrava, ele continuava a viagem montado em seu boi. Mesmo com 70 anos de idade, viajava uns 200 quilômetros a pé com outros publicadores.

Tchande Cuituna chegou a ter grandes manadas de gado que pastavam nos campos. Nessa sociedade patriarcal, ele era reconhecido como o chefe. A atividade do dia começava com o soar de uma campainha, para que todos pudessem juntar-se a ele e ouvir a leitura e a consideração de um texto bíblico no idioma local. Nos dias de reunião, o som familiar do gongo avisava umas 100 pessoas para se reunirem a fim de receberem instrução espiritual.

Em toda a região de Gambos, Tchande Cuituna tornou-se conhecido como o homem de Deus. Aplicando o que aprendia pelo seu estudo pessoal da Bíblia e das valiosas publicações do “escravo fiel e discreto”, o irmão Cuituna servia de excelente exemplo para outros seguirem. Com o fim de alcançar o máximo número de pessoas, ele traduziu o folheto “Estas Boas Novas do Reino” para as línguas nyaneka e kwanyama.

O escritório em Luanda ficava sabendo das atividades do irmão Cuituna pelos relatórios de serviço de campo que enviava de tempos a tempos por meio dos irmãos em Windhoek, na Namíbia. Para que o irmão Cuituna tivesse mais contato com outras Testemunhas de Jeová, o escritório em Luanda enviou em 1979 Hélder Silva, um superintendente de circuito, para visitá-lo. Ele recorda-se bem da viagem.

O irmão Silva escreveu: “Viajamos de carro uns 160 quilômetros até Chiange. De lá, fomos a pé os últimos 70 e poucos quilômetros. Uma tempestade de chuva torrencial que durou umas seis horas tornou quase impossível prosseguirmos. Às vezes, ficávamos com água até os joelhos, mas não podíamos parar, pois a região era infestada de ferozes animais selvagens. Por causa do barro, achamos mais fácil andar descalços, com nossa bagagem suspensa numa vara por cima dos ombros. Finalmente, chegamos à região de Liokafela e ao nosso destino: o quimbo (aldeia) do irmão Cuituna. Estávamos com fome e exaustos, de modo que as mulheres ali nos deram leite coalhado e uma bebida local feita de milho, chamada bulunga (quissangua), também uma bebida de chocolate e purê de milho, chamado ihita (pirão de massango). Depois de descansarmos junto ao calor de um fogo, estávamos prontos para as esperadas atividades.” Essa visita foi um passo à frente na pregação organizada das boas novas na região de Gambos.

Nenhum dos presentes se esquecerá do batismo dos 18 novos irmãos e irmãs em agosto de 1986 no rio Caculuvar. Foram os primeiros batismos realizados na região de Gambos nos 40 anos desde que a mensagem do Reino foi divulgada ali. Os pioneiros que haviam chegado para participar na obra nessa região estavam radiantes. Não há palavras para descrever a felicidade do irmão Cuituna ao presenciar o batismo dessas pessoas. Pulando de alegria, ele disse: “Sinto-me como o rei Davi quando acompanhou a arca de Jeová.” (2 Sam. 6:11-15) O irmão Cuituna continua a servir como pioneiro regular.

A obra no sul de Angola

Em 1975, Tymoly, uma mulher alta, de 18 anos de idade, da região de Huíla, no sul de Angola, entrou em contato com a verdade por meio dos esforços de um pioneiro de nome José Tiakatandela. Tymoly gostou da mensagem da Bíblia, mas os pais opuseram-se a ela fortemente. Negavam-lhe alimento por dias a fio, batiam nela e por fim atiraram-lhe pedras. Visto que sua vida estava em perigo, ela caminhou uns 60 quilômetros até chegar a Lubango. Ali, ela pôde assistir às reuniões congregacionais. Com a ajuda de um curso de alfabetização na congregação, ela progrediu até poder inscrever-se na Escola do Ministério Teocrático. Batizou-se em 1981. Tymoly aprendeu também a costurar para ganhar seu sustento, e ela faz a sua própria modesta roupa. Três homens e quatro mulheres de sua etnia ouviram a mensagem do Reino em 1978 e em 1980 foram batizados.

Depois, em 1983, José Maria Muvindi, de Lubango, alistou-se como pioneiro auxiliar por três meses. Foi para o sul, pregando em zonas rurais perto das cidades de Jaú e Gambos. Viajou, descendo até a província de Namibe, divulgando as boas novas entre os mucubais, a tribo predominante. Percebendo a grande necessidade nesses territórios, ele se alistou como pioneiro regular. Outros também se tornaram pioneiros.

Quando o irmão Muvindi pregou naquela região, as verdades bíblicas tocaram o coração de muitas pessoas ali. Começaram a fazer as necessárias mudanças na vida. Para servirem a Jeová de modo aceitável, tiveram de abandonar práticas antibíblicas, como a poligamia, a imoralidade, a bebedice e as superstições. Começaram a usar mais do que a tradicional tchinkuani, ou tanga. Um número constante de casais começou a viajar para Lubango com o fim de legalizar seu casamento. Para alguns, isso significava deixar sua aldeia pela primeira vez na vida! Um cartório de registro civil em Chiange, que ficara fechado por dez anos, foi reaberto para atender o súbito fluxo de pessoas da região de Gambos que desejavam certidões de nascimento e carteiras de identidade para poderem registrar seus respectivos casamentos.

Infelizmente, o irmão Muvindi morreu de hepatite em 1986, mas seu ministério zeloso produziu bons frutos. Por meio de seus esforços e dos de outros que trabalharam nessas regiões, muitos receberam testemunho. Hoje há nessa área nove congregações, bem como dez grupos que ainda não foram organizados como congregações, todos os quais promovem a verdadeira adoração nessa região.

Aumento da vigilância

Com a formação das Brigadas Populares de Vigilância (BPV) em 1984, houve renovada pressão sobre nossos irmãos. A missão das BPV era garantir que fosse mantida uma vigilância de perto dos não-integrados no processo revolucionário. Como é que essas brigadas cumpriram sua missão? Domingos Mateus, que na época servia como superintendente de circuito, lembra-se bem: “Em cada esquina de Luanda, via-se um membro das Brigadas Populares de Vigilância, identificado por uma faixa azul no braço com as iniciais BPV. Ele estava autorizado a revistar qualquer transeunte. Tornava-se cada vez mais difícil para os irmãos levar consigo publicações às reuniões. Em dezembro de 1985, 800 grupos das brigadas estavam alistados para serviços em Luanda, o que tornava impossível realizar até mesmo reuniões congregacionais.

“No ex-Largo Serpa Pinto, um grupo de cerca de 40 membros da brigada estava vigiando a área inteira. Eles estavam acompanhados de membros das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, um exército armado com metralhadoras. Era comum ouvi-los abrir fogo quando iam ao encalço de alguém ou quando queriam parar uma pessoa para interrogatório.

“Certa congregação havia programado realizar uma grande reunião na casa de um irmão. Pouco antes de começar o programa, percebemos que um membro das BPV estava vigiando os irmãos ao passo que anotava num caderno quantos entravam. Apesar do perigo, o irmão que morava na casa não entrou em pânico. Ocorreu-lhe uma idéia. De mansinho, chegou por trás do homem bem perto dele e pôs-se a gritar: ‘Vizinhos, vejam! Ladrão, peguem o ladrão!’

“Pego de surpresa, o membro das brigadas saiu correndo, deixando cair tudo o que tinha nas mãos. Quando os vizinhos desceram do edifício de apartamentos e outros olharam pelas janelas para ver o que estava acontecendo, o irmão entrou em sua casa e disse ao ancião: ‘Irmão, agora já pode começar a reunião; a situação está sob controle.’ Todas as reuniões programadas naquela casa durante a semana da visita foram realizadas sem outros problemas ou interferências.”

“O caldo entornou”

Tornava-se cada vez mais difícil a comunicação das Testemunhas de Jeová com seus irmãos cristãos fora do país. Mas António Alberto trabalhava numa firma estrangeira de petróleo. Ele ajudava levando importante correspondência entre irmãos em Angola e a congênere de Portugal.

Certo dia, porém, em 1987, a polícia no aeroporto interceptou um malote que continha correspondência sobre visitas de superintendentes de circuito e outros assuntos confidenciais. O irmão Alberto ficou transtornado. Ao meio-dia, foi a sua casa para visitar a família, visto que estava certo de que logo seria detido. Telefonou ao irmão que cuidava desses assuntos e simplesmente disse: “Avô, o caldo entornou.”

Depois disso, o irmão Alberto corajosamente foi à casa do homem encarregado da segurança policial do aeroporto. O irmão explicou que esteve preso durante o domínio colonial com alguns jovens portugueses, com os quais mantinha contato por correspondência e que o malote que continha essa correspondência foi confiscado no aeroporto. O chefe da segurança lhe deu um cartão para apresentar ao homem que havia confiscado o malote, pedindo que este lhe fosse entregue em seu escritório. Quando o irmão apresentou essa mensagem ao homem no aeroporto, o funcionário ficou perturbado. Por quê? Porque não podia entregar a correspondência ao chefe de segurança — ela tinha sido queimada! Para o grande alívio de Alberto, não se causou nenhum dano.

Decididos a andar nos caminhos de Jeová

A guerra em curso causou de novo pressão sobre as Testemunhas de Jeová para violarem a sua neutralidade cristã. Em fevereiro de 1984, 13 rapazes foram presos por se recusarem a pegar em armas. Dentre estes, só três eram Testemunhas batizadas: os outros eram publicadores não-batizados e estudantes da Bíblia. Apesar das ameaças e dos maus-tratos físicos, eles se mostraram inflexíveis na sua decisão de andar nos caminhos de Jeová. (Isa. 2:3, 4) Infelizmente, quando estavam sendo transferidos de avião para Luanda, a aeronave caiu ao levantar vôo e todos a bordo morreram.

Em abril de 1985, um grupo de nove — incluindo Testemunhas batizadas, publicadores não-batizados e pessoas interessadas — recusou-se a violar sua neutralidade. ( João 17:16) Foram transferidos de trem, depois de helicóptero, para uma zona de intenso combate. Quando os soldados tentaram forçá-los a se juntar à batalha e Manuel Morais de Lima se recusou a fazer isso, foi executado por fuzilamento. Outro irmão foi atingido por um morteiro que lhe feriu gravemente a perna, de modo que foi retirado da zona de combate e enviado a um hospital. Foi dito a dois dos irmãos: “Os helicópteros que os trouxeram aqui não pertencem a Jeová”, de modo que o único meio de voltarem era a pé — uns 200 quilômetros através de um território onde havia tropas de guerrilheiros e animais selvagens. Ao chegarem a Luanda, foram presos de novo! Entretanto, ainda estavam convictos de que ser governado pelo amor a Jeová Deus e ao próximo é o modo certo de viver. — Luc. 10:25-28.

Em outro caso, quatro Testemunhas foram mandadas para um remoto campo militar no extremo sul de Angola. Os soldados estavam certos de que a intensidade da guerra forçaria as Testemunhas a pegar em armas para se protegerem. Em vez disso, conforme relembra Miguel Quiambata, alguns oficiais, impressionados com a firme determinação desses homens e percebendo que eram inofensivos, concederam-lhes liberdade de locomoção naquela área. Eles usaram essa liberdade para ensinar a outros a provisão de vida eterna feita por Jeová por meio de seu Filho, Jesus Cristo. Em 1987, quando celebraram a Comemoração da morte de Cristo, havia 47 presentes, e logo a assistência às reuniões aumentou para 58.

Cerca de 300 Testemunhas de Jeová ainda estavam na prisão em 1990 por causa de sua neutralidade cristã. Algumas haviam cumprido múltiplas penas, de mais de cinco anos cada uma. Outras haviam sido detidas por quatro anos sem audiência. Mesmo depois de concedida uma anistia, algumas autoridades carcerárias deixaram de informar os irmãos sobre a anistia e os mantiveram presos. Outras demoraram em soltá-los porque as Testemunhas eram consideradas seus melhores trabalhadores e podia-se-lhes confiar trabalho fora da prisão sem que fugissem. Mas essa anistia não impediu a prisão e a execução de outras duas Testemunhas em 1994.

Mais tarde, uma pioneira que estava distribuindo Notícias do Reino N.º 35 encontrou um ex-militar que disse ter presenciado a execução de três Testemunhas que se recusaram a pegar em armas. Quando ela lhe perguntou se o mundo seria um lugar melhor se todos fossem Testemunhas de Jeová, ele reconheceu que, se eram capazes de enfrentar a morte por se recusarem a matar o próximo, o mundo estaria certamente em paz se todos fossem Testemunhas de Jeová. Ele aceitou a brochura O Que Deus Requer de Nós?, concordou em ter um estudo bíblico domiciliar e começou a freqüentar as reuniões congregacionais.

As águas da verdade continuaram a fluir

Jeová deu ao profeta Ezequiel uma visão da água da vida que fluía do grande templo espiritual de Deus. Ela corria debaixo e em torno de obstáculos, por terreno acidentado e transmitia vida onde antes era um ambiente de morte. (Eze. 47:1-9) Hoje, apesar dos obstáculos, essa vitalizadora água da verdade tem fluído para mais de 230 países, incluindo Angola.

Às vezes, os obstáculos pareciam enormes, mas a água da vida que procede de Deus encontrou meios de contorná-los. Durante toda a década de 80, a censura era tão rigorosa que apenas mensagens infreqüentes por meio de mensageiros chegavam do exterior ao escritório em Luanda. Todavia, publicações bíblicas que continham verdades animadoras transpuseram a fronteira entre Angola e a Namíbia, onde era relativamente fácil atravessar. Desse modo, foram obtidas publicações em português e nos idiomas locais. Isso funcionou naquela área por vários anos.

A ajuda vinha de várias fontes. Diversos profissionais ajudavam os irmãos a obter Bíblias. Até mesmo militares, tendo alguns deles parentes Testemunhas, se arriscaram muito para ajudar os irmãos em Angola. Diversos carregamentos de suprimentos para escritório, incluindo um valioso duplicador, foram enviados no nome de pessoas influentes. Um desses homens decidiu mais tarde juntar-se aos servos de Jeová em trabalhar sob a orientação do divino “Príncipe da Paz”. — Isa. 9:6.

Em 1984, Thierry Duthoit e a esposa, Manuela, mudaram-se do Zaire (agora a República Democrática do Congo) para Angola. Eles chegaram a ser muito amados pelos irmãos locais. O irmão Duthoit era alto e muitas vezes as pessoas pensavam que ele fosse russo. Durante o governo daquele tempo, os russos, em grande número em Angola, tinham total liberdade de locomoção.

Esse equívoco de identidade foi usado com boa vantagem para trazer a este país devastado pela guerra publicações que informavam como Jeová Deus, por meio do Reino messiânico, trará verdadeira paz à humanidade e fará que essa paz prevaleça até os confins da Terra. (Sal. 72:7, 8) O irmão Duthoit estabeleceu diversos contatos comerciais com pilotos de linhas aéreas que concordavam em transportar caixas de publicações bíblicas para dentro do país. Depois, o irmão Duthoit apanhava-as no aeroporto e as entregava aos irmãos. Ele conseguia também remédios que os irmãos enfermos precisavam muito.

Por intermédio do irmão Duthoit, irmãos de responsabilidade foram apresentados ao Sr. Ilídio Silva, um homem de negócios que doou dois duplicadores. Comprar essas máquinas era muito difícil para os irmãos, visto que o governo mantinha um inventário de toda a maquinaria de escritório no país. O Sr. Silva foi por sua vez abençoado, pois se tornou mais tarde um servo batizado de Jeová.

Com o equipamento eletrônico de duplicação, tornou-se possível produzir a revista A Sentinela com 20 páginas. Incluía importantes artigos secundários que os irmãos angolanos não tinham antes. Em pouco tempo, em média, 10.000 exemplares de cada número eram distribuídos. Mimeografou-se também o folheto Examine as Escrituras, e isto foi grandemente apreciado. Recebia-se de Portugal matéria selecionada, extraída de “Toda a Escritura É Inspirada por Deus e Proveitosa”, para que pudesse ser mimeografada também. Mais tarde, era possível receber essa matéria em forma de folheto. Isso ajudou a enriquecer o programa da Escola do Ministério Teocrático. Como foram revigorantes todas essas provisões espirituais!

A evidência da bênção divina incluía o crescimento no número de pessoas que louvam a Jeová neste país. No fim do ano de serviço de 1987, o número dos que relataram atividade como suas Testemunhas chegou a 8.388, um aumento de mais de 150% desde a proscrição em 1978. O número de congregações também se multiplicou, de 33 para 89. Embora se tomasse muito cuidado antes de convidar recém-interessados às reuniões, a assistência era cerca de 150% dos publicadores. Os publicadores trabalhavam no campo umas 18 horas em média por mês, e atingiu-se um auge de 23.665 estudos bíblicos domiciliares! É verdade que havia problemas econômicos e escassez de alimentos. Mas a confiança de nossos irmãos nas promessas de Jeová os habilitou a manter bom ânimo. Estavam decididos a continuar a ‘falar a palavra de Deus com denodo’. — Atos 4:31.

Treinamento especial para superintendentes de circuito

Os superintendentes viajantes, que constantemente se gastavam a favor das congregações, também necessitavam de encorajamento. Como ficaram radiantes de saber da provisão de poderem assistir em novembro de 1988, em Lisboa, Portugal, a um seminário especial para superintendentes viajantes!

Imagine a alegria deles por terem associação diária com a família de Betel de Portugal! Luis Cardoso, um dos que assistiram ao seminário, diz em síntese como eles se sentiram: “Foi para mim uma ocasião especialmente emocionante. Fomos recebidos de maneira muito calorosa pela família de Betel em Portugal. Parecia que os irmãos não sabiam o que fazer por nós. Aqueles 34 dias foram para nós repletos de atividade alegre e de aprendizagem.”

Primeiro, passaram duas semanas trabalhando com os superintendentes viajantes nos circuitos em Portugal para aprenderem por meio de observação. Nas duas semanas seguintes, assistiram a um seminário. Este tratava especialmente de seu campo de atividade teocrática e os preparou para as aulas da Escola do Ministério do Reino das quais participariam como instrutores. Na semana seguinte, assistiram às aulas da Escola do Ministério do Reino que estavam sendo dadas a anciãos e a servos ministeriais em Portugal. Isso deu aos irmãos de Angola a oportunidade de observarem como os superintendentes viajantes em Portugal ensinavam aos anciãos locais o que haviam aprendido no seminário.

“Este seminário me ensinou o que significa ser um bom estudante”, disse o irmão Cardoso. “Aprendi como nunca antes a estudar e a fazer pesquisas. Mediante o exemplo que deram, os irmãos nos ensinaram a mostrar consideração pelas nossas respectivas esposas, para trabalharmos juntos em união. Esse período inesquecível foi coroado com a exibição que os irmãos fizeram para nós do ‘Fotodrama da Criação’. Eu havia ouvido falar muito a respeito, mas era realmente emocionante vê-lo agora.”

Dando prosseguimento a esse período de instrução, em outubro de 1990, Mário Nobre, um superintendente de circuito de Portugal, foi designado para trabalhar com os superintendentes de circuito angolanos nas suas visitas às congregações em sua terra natal. Ele passou dois meses treinando os irmãos, e foi muito apreciado seu modo bondoso e paciente.

Com alegria especial, o irmão Nobre relata a seguinte experiência que teve alguns dias depois de chegar a Angola: “Fora programado eu dar um discurso público numa congregação de 198 publicadores. Fiquei admirado de ver 487 pessoas na assistência. Para a minha surpresa, o superintendente presidente pediu que eu desse o discurso novamente. Só metade da congregação estivera presente! Naturalmente, aceitei, e 461 pessoas assistiram ao segundo discurso, perfazendo um total geral de 948!”

Durante sua estada, o irmão Nobre ficou sabendo muitas coisas sobre o dia-a-dia dos irmãos angolanos. Ficou sabendo que as ruas em Luanda eram perigosas por causa dos tiroteios, mas ele se adaptou logo à situação e focalizou sua atenção no extraordinário interesse que as pessoas mostravam pela mensagem do Reino. A respeito de sua hospedagem, ele disse: “Os irmãos me deram o melhor que tinham. Tudo o que tínhamos era absolutamente o mínimo, mas era o suficiente.”

Severa seca

Em princípios de 1990, o cavaleiro do cavalo preto do Apocalipse — a fome — deixou seu rastro no sul de Angola, quando uma severa seca de três meses cobrou pesado tributo. (Rev. 6:5, 6) Plantações foram destruídas. Houve muito sofrimento. Segundo o Diário de Notícias de Lisboa, no mínimo 10.000 pessoas morreram devido à seca.

Quando chegaram à congênere de Portugal notícias sobre a situação, os irmãos enviaram imediatamente dois grandes contêineres por meio de irmãos e homens de negócios que mostravam interesse pela verdade da Bíblia. Um contêiner foi para Benguela, o outro para Luanda.

A congênere da África do Sul transportou por caminhão 25 toneladas de itens de socorros pela Namíbia. Quando os irmãos chegaram a Windhoek, solicitaram ao consulado angolano visto de entrada em Angola a fim de entregarem os suprimentos a seus irmãos cristãos. Embora a autoridade consular soubesse que as Testemunhas não eram reconhecidas em seu país, emitiu com satisfação os documentos necessários para que a ajuda pudesse chegar aos que estavam sofrendo. Providenciou-se até mesmo uma escolta militar para garantir a entrega com segurança.

Quando o caminhão chegou à ponte improvisada sobre o rio Cunene, os irmãos tiveram de transferir tudo para um caminhão menor e depois colocar tudo de volta ao passarem com segurança para o outro lado. Depois de passar por mais de 30 postos militares de fiscalização, o caminhão chegou a Lubango. Essa missão bem-sucedida abriu o caminho para mais três viagens, sendo transportados em cada uma delas toneladas de valiosos suprimentos.

Flávio Teixeira Quental, que estava em Lubango quando chegou o primeiro caminhão, relembra: “Quando vimos o caminhão chegar aproximadamente às três horas da tarde, sentimos grande alegria e consolo, também surpresa e um pouco de preocupação. Onde colocaríamos 25 toneladas de publicações, roupas e alimentos? Nosso Salão do Reino não tinha portas nem janelas, e nossa casa era pequena demais para caberem todas aquelas caixas. Organizamos logo os irmãos para ficarem vigiando o dia inteiro e a noite inteira, e colocamos tudo no Salão do Reino.”

Todos os suprimentos foram prontamente distribuídos. O irmão Quental continua: “Era tempo de guerra. . . . Nessa época muitas vezes só tínhamos uma revista para a congregação inteira. Como nos sentimos gratos a Jeová, à sua organização e aos nossos queridos irmãos que arriscaram a vida por irmãos que nem mesmo conheciam! Isto nos fez lembrar a espécie de amor que Jesus demonstrou pela humanidade dando sua vida humana a favor de outros.” — João 3:16.

Uma carta de agradecimentos enviada pelos anciãos em Benguela dizia: “O fim de semana que passou foi cheio de muita atividade ao passo que 32 voluntários distribuíam os suprimentos recebidos. Agradecemos àqueles cujo coração bondoso os motivou a nos enviar esta dádiva.” Apesar da fome, nenhum dos irmãos ali morreu de inanição.

Promessa de direitos humanos

Em 31 de maio de 1991, foi assinado um acordo de cessar-fogo entre as facções rivais em Angola, o que trouxe um período de relativa paz. Concordou-se na elaboração de uma nova constituição, com promessa de garantir os direitos humanos e políticos. A guerra civil que durou 16 anos deixou o país devastado. Cerca de 300.000 pessoas foram mortas. A expectativa de vida para um homem era de 43 anos; para uma mulher, 46 anos. Aumentava o desemprego e subia a inflação. O sistema educacional ficou gravemente desintegrado. Havia necessidade de uma grande reabilitação. Incluiria isso alívio para as Testemunhas de Jeová da proscrição em vigor desde 1978?

Em 22 de outubro de 1991, fez-se ao ministro da justiça um requerimento de registro da associação religiosa das Testemunhas de Jeová em Angola. Apresentou-se também uma notícia para divulgação pela imprensa, para tornar esse requerimento de conhecimento público.

Logo no dia seguinte, o Jornal de Angola publicou um artigo que, em parte, dizia: “Segundo um porta-voz das Testemunhas em Angola, há otimismo quanto ao reconhecimento da Associação e o acolhimento preliminar do Ministério da Justiça foi satisfatório.” O artigo contava também a história das Testemunhas de Jeová em Angola, bem como seus antecedentes em países como Portugal e Moçambique, onde haviam sido suspensas as proscrições da atividade das Testemunhas de Jeová.

Pela primeira vez em Angola houve publicidade favorável sobre as Testemunhas de Jeová! Vários dias depois, o diretor do jornal disse que recebeu muitos telefonemas, mesmo de pessoas influentes, congratulando-o pela publicação do artigo.

“Uma experiência que jamais esquecerei”

As Testemunhas de Jeová já começavam a reunir-se com mais liberdade. Congregações com 100 publicadores relatavam que entre 300 e 500 pessoas compareciam às reuniões! Como é que as Testemunhas, que até então tinham sido obrigadas a reunir-se em pequenos grupos em casas particulares, acomodariam essas multidões? Alguns irmãos que tinham quintal colocaram nesse espaço uma cobertura com telhas metálicas e ofereceram o local para uso da congregação. Muitas congregações simplesmente se reuniam ao ar livre. Os publicadores foram incentivados a convidar para as reuniões e assembléias apenas os estudantes da Bíblia que já estavam bem adiantados, porque não havia espaço suficiente para os demais. Havia urgente necessidade de locais para adoração.

Douglas Guest e Mário P. Oliveira foram enviados de Portugal para ajudar os irmãos a avaliar o trabalho a ser feito e a considerar as necessidades futuras. Durante a sua estada, foram realizadas reuniões especiais com anciãos e pioneiros das 127 congregações de Luanda. Houve oportunidade de reuniões com anciãos de 30 congregações fora da capital. Todas as regiões do país estavam representadas. Que momentos edificantes!

Também para o irmão Guest foi uma experiência profundamente comovente. Por mais de 30 anos, ele havia trabalhado estreitamente com esses irmãos por meio de cartas. Recordando a visita, ele disse: “Era notável que eles não se queixavam de sua sorte na vida. Uma paz no seu íntimo irradiava de seus rostos sorridentes, revelando que estavam espiritualmente vivos e bem. Tudo o que eles falavam era sobre as perspectivas de expansão da atividade de pregação em seu país. Foi uma experiência que jamais esquecerei.”

Mais uma vez o reconhecimento legal

Em 10 de abril de 1992, o diário oficial do governo, o Diário da República, declarava que a Associação das Testemunhas de Jeová tinha sido legalmente aprovada. Com grande entusiasmo, as Testemunhas de Jeová decidiram aproveitar ao máximo as oportunidades que isto lhes proporcionava. Em pouco tempo, alcançou-se um auge de 18.911 publicadores — um aumento de 30% acima da média do ano anterior. Os 56.075 estudos bíblicos domiciliares — três estudos em média por publicador — indicavam uma grande colheita à frente.

Informou-se à congênere da África do Sul que os irmãos ali podiam agora começar a enviar A Sentinela, Despertai! e outras publicações a Angola. Foram comprados dois caminhões para facilitar a distribuição local às congregações. Como os irmãos vibraram ao chegarem 24.000 exemplares da Sentinela de 1.º de maio de 1992 e 12.000 da Despertai! de 8 de maio de 1992! Logo houve um suprimento suficiente de livros com os quais podiam dirigir estudos bíblicos domiciliares. Antes disso, para dirigirem estudos, alguns publicadores memorizavam todas as perguntas e respostas da publicação de estudo.

Tempos difíceis — de novo!

A violência não era só coisa do passado. Depois das eleições de setembro de 1992, o país foi de novo dilacerado por uma guerra civil. Intensos combates aconteceram em 30 de outubro em cinco cidades principais: Lubango, Benguela, Huambo, Lobito e especialmente Luanda, onde se relatou que 1.000 pessoas foram mortas nos primeiros dias de combate.

Os hospitais ficaram superlotados, muito além de sua capacidade. Cadáveres jaziam nas ruas. As epidemias se alastraram. Por várias semanas não havia energia elétrica, nem alimentos, nem água. Prevaleciam roubos e saques. Grande parte da população civil ficou traumatizada.

Diversas Testemunhas de Jeová em Luanda foram mortas; outras foram dadas como desaparecidas. Quando chegaram a Portugal relatórios sobre as circunstâncias precárias de nossos irmãos, a congênere ali despachou imediatamente suprimentos de alimentos e remédios.

Durante esse período de luta entre as facções políticas, a estrita neutralidade das Testemunhas de Jeová foi notada pelo público. Foram ouvidos comentários favoráveis sobre o fato de que eram os únicos que não se envolviam na política e não tomavam partido de nenhum lado da luta pelo poder. Pessoas interessadas começaram a abordar as Testemunhas nas ruas e a pedir-lhes estudos bíblicos.

Ao considerarem sua situação, as Testemunhas estavam convencidas de que o que estavam passando era o cumprimento da profecia bíblica, e isto fortaleceu ainda mais sua confiança no Reino de Deus. Apreciaram como foi oportuno terem estudado o livro Revelação — Seu Grandioso Clímax Está Próximo!, especialmente a parte sobre as atividades da fera nestes últimos dias.

Uma mensagem do Corpo Governante

Pouco depois de irromper de novo a violência, o Corpo Governante enviou à congênere de Portugal uma carta animadora que expressava preocupação pelos irmãos em Angola. Entre outras coisas, a carta considerava as necessidades imediatas dos irmãos angolanos. Na conclusão, o Corpo Governante pedia que seu caloroso amor fosse transmitido aos irmãos em Angola.

Ao receberem essa mensagem em Luanda, os irmãos expressaram seus sinceros agradecimentos a Jeová por essa amorosa organização que tão ternamente cuida de seus servos em tempos de angústia. Essa expressão de amor foi especialmente consoladora para as famílias dos irmãos que perderam a vida durante esse período de violência.

Congresso de Distrito que marcou época

Em janeiro de 1993, a situação em Luanda ficou um pouco mais calma, e foi possível para muitos publicadores de várias partes do país assistir na capital aos Congressos de Distrito “Portadores de Luz”. Alguns chegaram de grandes distâncias a pé. Uma irmã da província de Huambo caminhou sete dias com seus quatro filhos pequenos, tendo o mais velho apenas seis anos. Ela chegou exausta, mas com a feliz expectativa de um banquete espiritual que logo ela e seus filhos iam usufruir.

O Pavilhão da Feira Industrial foi alugado por duas semanas consecutivas. Portugal forneceu os geradores e o equipamento de som. Apesar de os irmãos convidarem apenas os que freqüentavam regularmente as reuniões, o pavilhão ficou superlotado em ambos os congressos. A assistência conjunta foi de 24.491 pessoas. Era a primeira vez que os irmãos em Angola podiam usufruir um programa completo de três dias de congresso de distrito, incluindo o drama. Foram batizados 629 novos ministros nesses congressos, e os que compareceram ficaram muito contentes de receber a brochura Viva Para Sempre em Felicidade na Terra! nas línguas kikongo, kimbundu e umbundo, bem como em português a brochura Importa-se Deus Realmente Conosco?.

As autoridades governamentais observaram de perto a excelente conduta das Testemunhas presentes. Era incomparavelmente grande o contraste com o que estava ocorrendo em Luanda. No dia em que começou o primeiro congresso, irrompeu em vários bairros da cidade violência contra os refugiados que retornavam. Muitos foram mortos e houve centenas de feridos. Havia saques sem restrição. Casas foram destruídas, até mesmo as de alguns irmãos. Essa nuvem negra de renovada violência tornou mais marcante ainda o contraste com a luz espiritual usufruída pelos servos de Jeová. — Isa. 60:2.

Suprimido o contato das congregações com o escritório

Por causa da renovada luta, a maioria das congregações nas províncias ficaram gradualmente sem contato com o escritório em Luanda. O exército da resistência estabeleceu seu quartel-general em Huambo em janeiro de 1993 e seguiu-se uma luta feroz. Os irmãos fugiram em massa para o mato enquanto essa bela cidade foi a bem dizer destruída. Por quatro meses, não houve absolutamente notícias das 11 congregações que existiam na cidade. Finalmente, em abril, foi recebida uma breve mensagem que dizia: “Assistência à Comemoração das 11 congregações em Huambo: 3.505. Até o presente, não temos motivo para prantear.” Que boas notícias de que nenhum dos irmãos havia sido morto!

Nos meses e anos que se seguiram, chegaram mais relatórios que revelavam um registro de fidelidade e perseverança. Uma congregação relatou: “A pior época foi o período de dois meses em que a luta era tão intensa que ninguém ousava aventurar-se a caminhar pelas ruas durante o dia. Os irmãos se juntaram no porão de um edifício de apartamentos. De noite, saíam em busca de água para ferver, a fim de poderem beber no dia seguinte. As pessoas que tentavam atravessar a rua de um prédio a outro eram muitas vezes baleadas pelos atiradores que ficavam de tocaia. Como é que os irmãos conseguiam obter alimento? Eles contribuíam seus recursos a um fundo comum para comprarem arroz dos soldados a um preço exorbitante. A porção diária para cada pessoa era uma xícara de arroz. Quando não conseguiam obter alimento, tentavam diminuir as dores da fome bebendo água fervida. Não tinham meios de receber publicações, mas, para se manterem espiritualmente fortes, liam vez após vez as revistas e os livros que possuíam. Em resultado disso, sentem-se agora mais achegados a Jeová.”

Uma congregação na província de Kwanza Norte ficou sem contato com o escritório em Luanda por dois anos. As Testemunhas locais, embora isoladas, guardaram fielmente um registro de seu serviço de campo e um registro das contribuições que receberam. A própria situação deles era muito precária, mas não tocaram nesses fundos para nenhum uso pessoal. E continuaram individualmente a fazer pequenas contribuições para a obra mundial. Esses fundos foram entregues quando conseguiram por fim entrar em contato com o escritório. Que exemplo de apreço pela organização visível de Jeová!

Ampliação do Betel

Em fins de 1992, a Associação das Testemunhas de Jeová conseguiu comprar o sobrado de três pisos que havia sido alugado para servir de escritório para a comissão do país. Naquele mesmo ano, puderam alugar um armazém que era ótimo para estocagem de publicações e foi usado mais tarde para pequenas operações de impressão. Dois anos mais tarde, estavam em andamento planos para reformar o sobrado de três pisos e acrescentar um anexo de três pisos.

Era impossível comprar localmente materiais para a construção, assim o proposto prédio foi pré-fabricado em Portugal e enviado a Angola de navio em contêineres. Carlos Cunha, Jorge Pegado e Noé Nunes vieram de Portugal para ajudar na obra com suas habilidades em construção. O superintendente da construção, Mário P. Oliveira, que veio de Portugal, relata: “Quando começou a obra de construção em julho de 1994, Betel era uma colméia de atividade ao passo que ia chegando um contêiner após outro. A bem dizer, todos na família ajudaram a descarregar os contêineres que trouxeram todas as ferramentas e os materiais de construção, incluindo tinta, telhas, portas, esquadrias de janelas, etc. A família de Betel havia lido sobre os procedimentos de poupar tempo, mas agora mal podiam crer nos seus olhos ao verem a rapidez com que o prédio de três pisos foi construído.”

No término da construção, um irmão local enviou uma carta de apreço que dizia: “Agradeço a Jeová que me permitiu ter parte na construção do novo Betel. No começo, parecia um sonho, mas tornou-se realidade. Foi um imenso privilégio poder estar presente para a consideração do texto diário, o que me deu muito encorajamento. Também cheguei a conhecer todos os membros da família de Betel por nome, alguns dos quais só havia visto como oradores em congressos. Peço a Jeová que, se um novo Betel ou qualquer outra construção forem empreendidos no futuro, me seja concedido o grande privilégio de participar na obra.”

Posteriormente, para cuidar das crescentes necessidades, comprou-se um terreno de 4,5 hectares a uns dez quilômetros de Luanda. Espera-se que este seja o local de um novo escritório e lar de Betel.

Irmãos e irmãs de outros países, ansiosos de ajudar, vieram a Angola. Oito missionários chegaram em maio e junho de 1994. Várias viagens foram feitas pelos irmãos da África do Sul para ajudar a montar uma nova impressora e ensinar os irmãos locais a usá-la. Vieram irmãos de Portugal para ajudar no escritório em serviços com computadores, na contabilidade e em outros assuntos organizacionais. Betelitas a serviço no estrangeiro, procedentes do Canadá e do Brasil, contribuíram com suas habilidades. Quanto os irmãos apreciaram a disposição deles de ajudar na obra e de ensinar valiosos ofícios aos irmãos locais!

Congressos dão testemunho favorável

Foram tomadas providências em 1994 para a realização de congressos de distrito em mais lugares. Pela primeira vez, dois deles foram realizados nas províncias: um em Benguela, com 2.043 na assistência, e outro em Namibe, onde houve um auge de 4.088 pessoas presentes. A assistência total chegou a 67.278, e 962 foram batizados.

O diretor de um dos locais ficou tão impressionado com o que viu que ofereceu gratuitamente o uso de sua arena por duas semanas. Uma pessoa interessada disse: “Como são agradáveis as maneiras bondosas que observei! Não vim inspecioná-los; desejo continuar com vocês. Peço-lhes que me façam o grande favor de me enviar um instrutor tão logo seja possível, para que eu possa seguir firmemente o exemplo de vocês.”

Para o Congresso de Distrito “Louvadores Alegres”, em agosto de 1995, as Testemunhas contrataram o uso de um grande estádio no coração de Luanda. Os irmãos substituíram grande parte dos assentos de madeira, deram uma demão de tinta e fizeram consertos no sistema hidráulico. Como reagiria o público ao convite para comparecer ao evento? O resultado foi surpreendente! No primeiro fim de semana, a multidão lotou todo o campo de futebol e ocupou todos os espaços debaixo das arquibancadas. Os congressistas ficaram radiantes de saber que 40.035 assistiram ao congresso. No fim de semana seguinte, chegaram outros 33.119. O total de batizados foi de 1.089.

Visto que havia menos de 26.000 Testemunhas de Jeová no país inteiro, de onde eram todas essas pessoas? Eram angolanos que mostravam interesse pela mensagem bíblica ensinada pelas Testemunhas de Jeová. Um repórter de uma agência noticiosa de Luanda disse: “Uma coisa que nunca antes se viu está acontecendo aqui no Estádio dos Coqueiros. Cerca de 60.000 pessoas de todos os níveis sociais estão aqui assistindo ao congresso de distrito das Testemunhas de Jeová. É realmente notável; homens, mulheres, crianças e idosos estão reunidos aqui . . . ouvindo incentivos para louvar seu Deus, Jeová.”

Os que observaram a chegada dos congressistas ficaram impressionados com o fato de que, apesar de seus limitados recursos, os congressistas estavam vestidos de modo esmerado e limpo. Durante as sessões, todos estavam atentos. Parecia que os únicos que andavam eram os indicadores que faziam a contagem. Uma vice-ministra do governo, que assistiu à inteira sessão de domingo de manhã, observou: “Estou pasmada! Que diferença entre as pessoas dentro deste estádio e as do lado de fora. Estou impressionada com o valor prático de seu programa. Meus parabéns!”

As Testemunhas angolanas haviam lido sobre grandes congressos dos servos de Jeová em outras partes do mundo. Mas elas estavam aqui assistindo a um desses em sua própria terra. Que bênção depois de anos de perseverança em tempos extremamente difíceis! Estavam maravilhados. Seu coração transbordava de agradecimentos a Jeová por lhes permitir fazer parte de Sua família especial na Terra neste momentoso período da história humana.

Angola passa a ter uma congênere

A pregação das boas novas expandia-se rapidamente. Nos anos de 1994 a 1996, os publicadores aumentaram, em média, 14% por ano. Atingiu-se o auge de 28.969 publicadores e o número de estudos bíblicos ultrapassou a cifra de 61.000. Quando a Associação das Testemunhas de Jeová foi registrada em 1992, havia 213 congregações; até 1996 o número tinha aumentado para 405. A assistência à Comemoração, de 108.394 naquele ano, indicava um ajuntamento ainda maior no futuro.

Passando o escritório em Luanda a ser uma congênere, podia-se cuidar prontamente das necessidades locais. Assim, em 1.º de setembro de 1996, começou a funcionar uma congênere em Angola. O Corpo Governante designou uma Comissão de Filial composta de três irmãos que já vinham servindo fielmente na comissão do país: João Mancoca, Domingos Mateus e Silvestre Simão. Mais dois missionários foram designados para servir com eles: José Casimiro e Steve Starycki.

Para ajudar a preparar essa transição, Douglas Guest, da congênere de Portugal, visitou Angola em junho de 1996. Ele proferiu um discurso perante os 56 membros da família de Betel sobre a necessidade de darem um excelente exemplo em todas as coisas. Um programa especial para 5.260 anciãos e pioneiros, junto com suas respectivas esposas, da região da grande Luanda, apresentou entrevistas com membros da Comissão de Filial e outros irmãos antigos, ressaltando pontos altos da história dos servos de Jeová em Angola. O irmão Guest falou-lhes sobre a coragem que resulta de confiar em Jeová e de recorrer a Ele para obter força.

A verdade disponível em seu próprio idioma

Revelação 7:9 diz que “uma grande multidão” de pessoas “de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas” se uniria em adorar a Jeová. O país de Angola certamente está incluído nessa profecia. Há 42 línguas e muitos mais dialetos que são falados aqui. Entre estas línguas nativas, as mais amplamente usadas são: umbundo, kimbundu e kikongo.

Por anos, as reuniões congregacionais empreendiam freqüentemente a interpretação da matéria de estudo do português para pelo menos uma língua local. Para terem seu próprio material de estudo, as pessoas tinham de aprender português, mas as oportunidades de aprendizagem eram muito limitadas. Uma das primeiras publicações disponíveis em umbundo foi o folheto “Estas Boas Novas do Reino”. Em 1978, quando um dos anciãos recebeu um exemplar do folheto, comentou: “Com este folheto em umbundo, Moçâmedes [agora Namibe] terá mais de 300 publicadores. A maioria das pessoas nesta região fala e lê esse idioma. Isto é uma verdadeira bênção!” Foi tão grande essa bênção que agora há em Namibe 1.362 publicadores em 21 congregações.

Mas era preciso fazer mais para tocar o coração dos angolanos, apresentando-lhes as boas novas em seu próprio idioma. Era preciso lançar a base para um Departamento de Tradução plenamente equipado. Pouco depois de serem as Testemunhas de Jeová legalmente registradas em 1992, três prospectivos tradutores foram enviados à congênere da África do Sul para receberem treinamento preliminar. Foram adquiridos computadores. Daí, Keith Wiggill e sua esposa, Evelyn, chegaram da África do Sul para ajudar a organizar o novo departamento e a usar os programas de computador para tradução feitos pela Sociedade.

Cada vez mais publicações nas línguas nativas começaram a ser fornecidas. Na língua umbundo, foram publicadas brochuras como Viva Para Sempre em Felicidade na Terra! e Importa-se Deus Realmente Conosco?. Depois, tornaram-se disponíveis em kikongo e em kimbundu, junto com uma variedade de tratados. Em 1996, foram lançados nessas três línguas o livro Conhecimento Que Conduz à Vida Eterna e a brochura O Que Deus Requer de Nós?. Um superintendente de distrito relatou que numa das congregações anfitriãs em que serviu, ele usou uma apresentação muito simples e direta e conseguiu iniciar 90 estudos bíblicos numa só semana! No ano seguinte, o número de congregações aumentou de 478 para 606.

Que bênção foi os irmãos poderem ouvir e ler as verdades bíblicas em seu próprio idioma! Em 1998, realizou-se o primeiro congresso de distrito em Huambo inteiramente na língua umbundo. A assistência foi de mais de 3.600. Com corações gratos, os congressistas foram ouvidos dizer: “Jeová não nos esqueceu!” A evidência dessa terna preocupação foi ressaltada quando A Sentinela se tornou disponível em umbundo, a partir do número de 1.º de janeiro de 1999.

Necessidade urgente de Salões do Reino

Por muitos anos, por causa das proscrições de suas atividades, as Testemunhas de Jeová em Angola não podiam ter Salões do Reino. Desde 1992, o número de congregações só em Luanda cresceu de 147 para 514. No país todo, o número de congregações aumentou mais de 200%, para 696. A média de assistência às reuniões em muitas congregações é de 200 a 400 pessoas. As assembléias e os congressos em 1998 relataram assistências quatro vezes maiores que o número de publicadores! Há necessidade urgente de locais adequados para reuniões.

A cidade de Lubango passou a ter seu primeiro Salão do Reino em 1997, Lobito, em julho de 1998 e Viana, em dezembro de 1999. Com a ajuda do atual programa internacional de construção de Salões do Reino, está havendo progresso nesse sentido.

Projetou-se construir um tipo de Salão do Reino desmontável, de estrutura de aço e sem paredes, para uso em Angola. Por que desmontável? Apesar dos esforços para adquirir justo título de um terreno, pode surgir alguém, mesmo depois de erguido um prédio, que reivindique ser o proprietário legítimo do terreno. O Salão do Reino é projetado de um modo que possa ser mudado de lugar se necessário. Quanto ao estilo ao ar livre, é mais confortável neste clima quente. Em maio do ano 2000, chegaram os materiais da primeira unidade pré-fabricada. Existem apenas 24 Salões do Reino de vários tipos no país, e mais 355 serão necessários nos próximos cinco anos. Espera-se que o que está sendo feito agora ajude a satisfazer a necessidade urgente.

Além do trabalho em construções de Salões do Reino, planeja-se construir futuramente um Salão de Assembléias, com estrutura de aço, aberto dos lados e com 12.000 assentos.

Respeito pela santidade do sangue

Para preencher outra necessidade, começou a atuar em outubro de 1996 uma Comissão de Ligação com Hospitais (Colih), composta de dez anciãos prestativos, para servir as centenas de congregações na região da grande Luanda. As Testemunhas locais ficaram radiantes de ter disponíveis irmãos bem treinados para ajudá-las a conseguir tratamento médico que leva em consideração seu desejo de ‘abster-se de sangue’. — Atos 15:28, 29.

As dependências da área de saúde que sobreviveram à guerra tinham recebido muito pouca manutenção desde meados dos anos 70. Os medicamentos eram escassos. Nessas condições difíceis, será que os médicos estariam dispostos a cooperar com as Testemunhas de Jeová em estabelecer um programa de tratamentos e cirurgias sem sangue? No início, a maioria dos médicos e administradores de hospital reagiram negativamente ou adiaram os encontros marcados com eles. Daí, surgiu uma emergência médica.

Um irmão da província de Malanje foi levado ao Hospital Américo Boavida, em Luanda, para uma cirurgia de um tumor no estômago. Um membro da Colih acompanhou a esposa do irmão para falar com o cirurgião. O Dr. Jaime de Abreu, chefe do setor cirúrgico do hospital, recebeu as duas Testemunhas. Para a surpresa destas, ele estava familiarizado com as Testemunhas de Jeová e sua posição sobre o sangue, e soube do programa de tratamentos sem sangue quando estava de férias em Portugal.

Com a cooperação do Dr. Abreu, realizou-se com sucesso uma cirurgia sem sangue. Mais tarde, os irmãos da Colih tiveram uma reunião com o Dr. Abreu e sua equipe para fornecer informações adicionais. Agora cinco médicos cooperam com as Testemunhas, respeitando sua posição sobre o sangue.

Mais trabalhadores para a colheita

Uma vez cuidadas as muitas necessidades organizacionais e de publicações, deu-se mais atenção ao grande número de pessoas interessadas encontradas no campo. Como se aplicam bem a Angola as palavras de Jesus: “Sim, a colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos.” (Mat. 9:37) Os relatórios revelavam que dezenas de cidades necessitavam de ajuda para cuidar dos interessados pela verdade.

Para atender essa necessidade, a Sociedade enviou mais 11 missionários para que ajudassem na “colheita”. Alguns foram designados para as cidades litorâneas de Benguela e Namibe. Mas Jeová suscitou a maioria dos trabalhadores dentre os próprios angolanos. Só nos últimos cinco anos, 21.839 pessoas se batizaram, juntando-se assim à multidão dos louvadores dedicados de Jeová neste país.

Os olhos de Jeová estão sobre eles

Tem sido impossível enviar irmãos experientes a todos os lugares onde há interesse pela Palavra de Deus. Qual tem sido o resultado? Tem havido maior evidência de que a obra é dirigida não pelo homem, mas pelo espírito de Deus. (Zac. 4:6) Os olhos de Jeová estão sobre todos os seus servos, bem como sobre outros que sinceramente desejam conhecer e servir o verdadeiro Deus. — Sal. 65:2; Pro. 15:3.

Alguns aldeões da província de Kwanza Norte viajaram para Luanda e obtiveram revistas das Testemunhas que as distribuíam nas ruas. Depois de chegarem a saber das boas novas contidas nessas revistas, os aldeões decidiram que deviam seguir o exemplo das Testemunhas de Luanda e compartilhar as revistas com outros. Entenderam também a necessidade de se reunirem, de modo que um homem no grupo fazia o melhor que podia para dirigir reuniões. Entretanto, visto que a aldeia deles se acha num lugar remoto, as notícias de que as Testemunhas de Jeová haviam sido legalmente registradas três anos antes não haviam chegado ao conhecimento das autoridades locais. Por isso, os aldeões não tiveram permissão de reunir-se publicamente. Sem se desencorajar, reuniam-se no mato.

Com o tempo, chegaram ao escritório de Luanda notícias de que pessoas em Quilombo dos Dembos desejavam ajuda para organizar uma congregação. Enviou-se em outubro de 1997 um superintendente de circuito à aldeia, e 140 pessoas assistiram à reunião durante sua visita. Ele sempre levava consigo uma cópia dos estatutos da Associação das Testemunhas de Jeová, de modo que pôde fornecer evidências às autoridades locais de que as Testemunhas de Jeová eram uma organização que funcionava legalmente. O grupo sente-se hoje feliz de poder reunir-se publicamente, e há em seu meio pioneiros que ajudam agora as muitas pessoas interessadas.

Em 1996, Ana Maria Filomena estava numa pequena cidade na província de Bié. Ela fazia o que podia para divulgar as boas novas, e em pouco tempo um grupo de pessoas interessadas começou a reunir-se semanalmente para o estudo de livro e o Estudo de A Sentinela. Ana Maria dirigia as reuniões porque não havia irmão batizado disponível. Certo dia, informou-se-lhe que um comandante militar de alta patente estaria na reunião no domingo para pessoalmente ver o que se ensinava ali. Ele veio com dois soldados. Evidentemente, ele ficou satisfeito com o que ouviu, pois antes de sair disse: “Continuem sem medo seu trabalho neste território.” Aquele pequeno grupo é agora a congregação Sul de Kuito-Bié de língua umbundo, com 40 publicadores e uma assistência de 150 pessoas nas reuniões de domingo.

Visto que as congregações na província de Uíge ficaram isoladas por cerca de dois anos, não haviam recebido o necessário alimento espiritual. Uma Testemunha explicou o problema a um parente que fazia transportes aéreos regulares e levava suprimentos. Bondosamente esse parente ofereceu transportar sem custo o superintendente de circuito, um pioneiro especial e uns 400 quilos de publicações no próximo vôo. Quando os irmãos chegaram ali, ficaram sabendo que uma congregação cuidava de cinco grupos isolados. Cada grupo tinha reuniões com 50 a 60 pessoas interessadas na assistência.

Em princípios de 1996, nessa mesma província, um superintendente de circuito visitou uma congregação que estava isolada do resto da organização por mais de quatro anos. O que encontrou ali? Embora houvesse apenas 75 publicadores, a assistência ao seu discurso público foi de 794 pessoas! Claramente, viver em área isolada não havia enfraquecido o zelo desses irmãos em pregar as boas novas a outros.

Da região de Gabela, a certa distância ao sul de Luanda, chegaram relatórios similares sobre grande interesse pela verdade. Um pioneiro ali dirige cinco Estudos de Livro de Congregação — um estudo diferente em cada noite da semana. Ele também ‘suplica ao Senhor da colheita que envie mais trabalhadores’. — Mat. 9:37, 38.

“O mais trágico conflito de nossos tempos”

A atividade das Testemunhas de Jeová em proclamar as boas novas em todo o país de Angola torna-se muito mais surpreendente quando se considera isso à luz da situação no país. Um relatório das Nações Unidas descrevia a guerra civil em Angola como “o mais trágico conflito de nossos tempos”. Em vista do sofrimento humano envolvido, essa descrição dificilmente poderia ser contestada. Mesmo após o cessar-fogo, noticiou-se que 1.000 pessoas eram mortas por dia. Em março de 2000, The New York Times dizia: “A guerra em Angola, uma nação de 12 milhões de habitantes, deixou um milhão de mortos, e agora três milhões estão deslocados de suas casas.”

Mesmo se houvesse um cessar-fogo total, as seqüelas da guerra permaneceriam. Angola possui uma das mais elevadas concentrações de minas terrestres do mundo e calculadamente 70.000 pessoas mutiladas em resultado de explosões de minas — a mais elevada do mundo. Incrivelmente, os partidos em luta continuam a plantar minas. Isto faz com que os lavradores abandonem seus campos, o que contribui para uma extrema escassez de alimentos para a população.

Em meio à violência, as Testemunhas de Jeová não ficaram ilesas. Na província de Kwanza Norte, quatro Testemunhas e uma pessoa interessada foram mortas pelo fogo cruzado das tropas do governo e do exército da resistência. Algumas delas foram mortas em acidentes com minas terrestres e bombas aleatórias que explodiram em mercados. Em 1999, quatro Testemunhas perderam a vida enquanto tentavam levar alimento e outros suprimentos a seus irmãos cristãos em Huambo. Felizmente, esses incidentes têm sido raros.

Junto com os outros, as Testemunhas de Jeová têm sofrido muito em resultado de escassez de alimentos, de roupa e de abrigo. Quando se intensificou a guerra civil em 1999, estima-se que 1.700.000 pessoas, incluindo muitas Testemunhas de Jeová, foram forçadas a fugir de suas casas. As pessoas que fogem da guerra muitas vezes se mudam para a casa de parentes que já estão com a casa superlotada. Embora seja muito difícil prover às necessidades de suas respectivas famílias, os anciãos continuam a cuidar das necessidades espirituais dos irmãos. Não há palavras para descrever o profundo apreço dessas Testemunhas pelos seus irmãos cristãos na Itália, em Portugal e na África do Sul que se sensibilizaram diante de sua situação e enviaram muitos contêineres cheios de alimentos, roupas e remédios tão necessitados.

Exemplos vivos de fé

Assim como nos tempos antigos se usava calor intenso para purificar o ouro, assim as provações dos servos de Deus produzem uma fé de qualidade provada. (Pro. 17:3; 1 Ped. 1:6, 7) Milhares de Testemunhas de Jeová em Angola, tanto jovens como idosos, têm uma fé assim, de qualidade provada.

Carlos Cadi, ministro de longa data, que aprendeu no Congo Belga, junto com João Mancoca, há mais de meio século, as preciosas verdades da Bíblia, faz a seguinte observação: “A determinação e coragem de nossos irmãos, muitos dos quais deram a sua vida, serviu como poderoso testemunho. Isto se deu não só em resultado de suas ações, mas também por falarem destemidamente a muitos em posição de autoridade.”

Um que serviu assim como testemunho é Antunes Tiago Paulo. Ele foi tratado brutalmente por homens que procuravam quebrantar sua neutralidade cristã. Hoje, ele serve como membro da família de Betel de Angola com outros que foram similarmente torturados, os quais são: Justino César, Domingos Kambongolo, António Mufuma, David Missi e Miguel Neto. Alfredo Chimbaia, que passou mais de seis anos na prisão, trabalha agora junto com a esposa no serviço de circuito.

Uma irmã viu seu marido ser arrancado da família e morto por uma tribo rival. Avisaram-na que, se quisesse permanecer viva, tinha de fugir para a República Democrática do Congo. Para chegar lá, ela teve de viajar a pé com seus quatro filhos. Levou dez meses. Antes de começar a viagem, ela não sabia que estava grávida, e antes de chegar ao Congo deu à luz. Infelizmente, porém, o bebê mais tarde morreu. Ela orava constantemente. Ela disse que numa situação assim em que a pessoa não tem opções, é preciso lançar o fardo sobre Jeová. (Sal. 55:22) Do contrário, tende a fazer lamúrias e a perguntar: “Por que justo eu, Jeová?” Essa irmã estava tão grata por simplesmente estar viva que ao chegar a Kinshasa serviu como pioneira auxiliar no seu primeiro mês ali.

“Deus não se envergonha deles”

O que o apóstolo Paulo escreveu a respeito de homens e mulheres de fé dos tempos antigos descreve bem os servos de Jeová em Angola. Suas palavras podem ser parafraseadas assim: ‘Que mais podemos dizer? Pois o tempo nos faltaria se prosseguíssemos relatando todos os exemplos de fé dos que escaparam do fio da espada, dum estado fraco foram feitos poderosos, foram torturados porque não quiseram aceitar livramento por meio de alguma transigência. Receberam a sua provação por mofas e por açoites, deveras, mais do que isso, por laços e prisões. Foram provados, passando necessidade, tribulação, sofrendo maus-tratos; e o mundo não era digno deles.’ (Heb. 11:32-38) Embora tenham sido desprezados pelos seus perseguidores e muitos passem necessidade por causa da guerra e da anarquia, “Deus não se envergonha deles, de ser chamado seu Deus”, porque eles mantêm os olhos fixos no cumprimento de Suas promessas. — Heb. 11:16.

As Testemunhas de Jeová em Angola, embora continuem a sofrer os terríveis efeitos dos cavaleiros do Apocalipse na sua cavalgada furiosa, estão bem apercebidas das bênçãos de Deus. No ano passado, os mais de 40.000 publicadores neste país devotaram mais de 10.000.000 de horas falando a outros sobre as boas novas do Reino de Deus. Mantiveram-se ocupados dirigindo, em média, mensalmente mais de 83.000 estudos bíblicos domiciliares com pessoas interessadas. O sincero desejo dos publicadores do Reino em Angola é ajudar o máximo número de pessoas a ter a oportunidade de escolher a verdadeira vida que Deus torna possível por meio de Jesus Cristo. E como se alegraram de que, apesar da situação instável no país, mais de 181.000 se reuniram para a comemoração anual da Refeição Noturna do Senhor! Eles vêem abundante evidência de que os campos ainda estão brancos para a colheita. — João 4:35.

Junto com seus irmãos cristãos no mundo inteiro, as Testemunhas de Jeová em Angola têm absoluta confiança no triunfo final de seu Rei e Líder celestial, Jesus Cristo. (Sal. 45:1-4; Rev. 6:2) Apesar das tribulações que enfrentam, estão decididos a ser servos leais dele e fiéis Testemunhas de seu amoroso Deus, Jeová. — Sal. 45:17.

[Destaque na página 68]

‘Embora nossa condição física seja grave, estamos espiritualmente saudáveis. O que está acontecendo é exatamente o que foi predito na Bíblia.’

[Destaque na página 73]

Estudaram a Bíblia e começaram a pregar. Logo foram deportados para Angola.

[Destaque na página 78]

“O máximo que pode fazer é matar-me. Pode fazer mais do que isso? Mas não renunciarei à minha fé.”

[Destaque na página 82]

Ele estava convencido de que havia encontrado a verdade. Mas quanto a prezava?

[Destaque na página 85]

Na prisão, eles pregavam para as paredes sobre qualquer assunto bíblico que lhes viesse à mente.

[Destaque na página 89]

Havia em toda a volta sinais de guerra, mas eles continuaram com seu ministério de pregação.

[Destaque na página 91]

Pastores cristãos faziam regularmente breves visitas em sua viagem de ida e volta do trabalho. Liam com freqüência alguns textos bíblicos com a família.

[Destaque na página 96]

“OK, vou dizer ‘Viva!’ ” Todos ficaram na expectativa. Por fim, o menino gritou “Viva Jeová!”

[Destaque na página 103]

“Deixei Angola com o coração cheio de orações e com lágrimas nos olhos por causa desses irmãos que, mesmo sofrendo, sorriam por causa de sua maravilhosa esperança.”

[Destaque na página 108]

“Ele proferia cada um de seus discursos de 7 a 21 vezes. A agenda da semana era bem cheia e extenuante.”

[Destaque na página 111]

Nessa sociedade patriarcal, ele era reconhecido como o chefe. Tornou-se conhecido como o homem de Deus.

[Destaque na página 116]

Sob pressão para violarem sua neutralidade cristã, mostravam-se inflexíveis na sua decisão de andar nos caminhos de Jeová.

[Destaque na página 124]

“Como nos sentimos gratos a Jeová, à sua organização e aos nossos queridos irmãos que arriscaram a vida por irmãos que nem mesmo conheciam!”

[Destaque na página 128]

A estrita neutralidade das Testemunhas de Jeová foi notada pelo público.

[Destaque na página 138]

Há 696 congregações, mas apenas 24 Salões do Reino.

[Mapa na página 81]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

ANGOLA

Oceano Atlântico

NAMÍBIA

REP. DEM. DO CONGO

Luanda

Baía dos Tigres

Huambo

Lubango

Lobito

Benguela

Malanje

Namibe

[Foto de página inteira na página 66]

[Foto na página 71]

Gray e Olga Smith

[Foto na página 74]

John Cooke (no centro) com João Mancoca (à direita) e Sala Filemon (à esquerda), uns dos primeiros a ficar firmemente do lado da adoração verdadeira em Angola

[Foto na página 87]

Entusiástica assembléia durante um período de liberdade em 1975

[Foto na página 90]

Um país devastado pela guerra

[Foto na página 102]

A “cozinha” onde era preparado o alimento espiritual

[Foto na página 104]

Silvestre Simão

[Foto na página 123]

Suprimentos de socorro para Angola sendo carregados na África do Sul

[Foto na página 126]

Acima: uma reunião especial com anciãos e pioneiros regulares em Luanda

[Foto na página 126]

Douglas Guest (à esquerda) em Angola, em 1991, com João e Maria Mancoca e Mário Oliveira

[Foto na página 131]

O primeiro escritório usado pelas Testemunhas de Jeová em Luanda

[Foto na página 134]

Congresso de Distrito “Louvadores Alegres”, ao qual 73.154 pessoas assistiram em Luanda

[Foto na página 139]

Uma construção com cobertura de telhas metálicas que serve como um dos 24 Salões do Reino em Angola

[Foto na página 140]

Comissão de Filial (da esquerda para a direita): João Mancoca, Steve Starycki, Silvestre Simão, Domingos Mateus, José Casimiro

[Foto na página 141]

A família de Betel em Angola, em 1996, quando foi formada a congênere

[Foto na página 142]

Alguns dos muitos membros da família de Betel que provaram sua fé sob terríveis maus-tratos: (1) Antunes Tiago Paulo, (2) Domingos Kambongolo, (3) Justino César

[Foto na página 147]

Carlos Cadi